O novo ano arrancou com problemas do ano passado, as longas horas de espera nas urgências hospitalares continuam a verificar-se um pouco por todo o país. No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, doentes com pulseira laranja chegaram a aguardar mais de 14 horas para serem observados, de acordo com o portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O mesmo cenário repetiu-se em outros hospitais da capital.
Em declarações à comunicação social, o bastonário da Ordem dos Médicos demonstrou a sua preocupação, sobretudo devido ao facto de em causa estarem doentes urgentes.
“Estou preocupado como médico e como cidadão”, pelo facto dos “tempos de espera serem tão elevados para doentes urgentes. Recordo que as prioridades amarela, laranja e vermelha são urgentes”, salientou.
Numa visita feita, esta semana, ao Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), acompanhado por dirigentes sindicais, Miguel Guimarães alertou que a resolução da crise que se vive atualmente nas urgências “não se resolve de um dia para o outro” e que é necessário, como já era anteriormente, “uma intervenção de fundo que permita que muitos dos doentes que acabam por ir ao serviço de urgência” por terem, por exemplo “uma descompensação da sua insuficiência cardíaca, da sua diabetes, e de outras doenças crónicas, sejam seguidos de uma forma diferente”.
O bastonário e os representantes sindicais do SIM e da FNAM defenderam que a pressão sobre as urgências hospitalares e os elevados tempos de espera registados em vários hospitais, não é causada, na sua maioria, pelo recurso injustificado às urgências, recordando que, muitas vezes, os utentes não encontram resposta nos cuidados de saúde primários.
“É necessária uma integração de cuidados, entre os cuidados primários e os próprios hospitais, nomeadamente com a Medicina Interna”, explicou Miguel Guimarães.
Questionado sobre se a falta de médicos se resolveria com a possibilidade de contratação de mais profissionais, o bastonário considerou que não. “Cerca de 40% dos jovens especialistas não aceitam lugares no Serviço Nacional de Saúde e isto é deliberado, portanto, temos de criar melhores condições de trabalho no SNS e melhores salários”, disse.
Para Miguel Guimarães é obvio que a principal forma de resolver grande parte dos problemas do SNS, passa por valorizar o trabalho médico e de todos os profissionais de saúde. “Vamos ter de ter uma intervenção na carreira médica e valorização do trabalho dos médicos”, respondeu, acrescentando, por outro lado, a inovação terapêutica e tecnológica, a possibilidade de fazer investigação dentro do horário normal de trabalho e a diferenciação de regimes de trabalho como outros fatores de valorização da profissão.
Da parte dos sindicatos, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, afirmou que a resolução dos problemas do SNS não é possível sem a contratação de mais médicos, mas, partilhando a perspetiva da Ordem, referiu também que para isso é necessário melhorar as condições de trabalho.
Da mesma forma, Tânia Russo da Federação Nacional dos Médicos disse que “os sindicatos estão disponíveis para negociar grelhas salariais” e considerou que essa revisão é “crucial para fixar médicos no SNS e ter um SNS capaz de dar resposta às pessoas”.