Autora: Mafalda Isilda dos Santos Oliveira, Médico Interno de MGF no 4º ano (USF St. André de Canidelo, ACeS Grande Porto VII)
Resumo: O nosso tempo aqui é limitado. Paradoxalmente, vivemos como se assim não fosse. Será que podemos ainda acrescentar qualidade a esta quantidade, desconhecida, mas definida? Mais do que isso, será que queremos?
O tempo sustenta, define e orienta o dia a dia de cada um. Paradoxalmente, raramente pensamos neste que é um dos mais importantes recursos, indispensável e limitado.
Quereremos, na realidade, ganhar tempo ao tempo? Há um sem fim de olhares sobre o tempo e, porventura, mais formas ainda de o aplicar. A todo o momento. Mais, todos sabemos que existe, por exemplo, um tempo limitado para estarmos com quem amamos, mas será que agimos em consonância com esta premissa? Esta será apenas uma das muitas interpelações que a procura por uma gestão sensata do tempo, dirigida ao que importa, formula. Deste tempo que é também uma viagem que produz efeitos à sua passagem, designadamente, na pessoa.
Na Medicina, o tempo (que é mais do que um fator) é, igualmente, um desafio constante, que veste diferentes figuras. O tempo de estudo. O número de horas de trabalho e vividas no local de trabalho. O tempo de consulta, de visita a cada paciente internado, de cirurgia. O tempo para cuidar da pessoa em situação clínica emergente ou urgente. O tempo como contribuinte na destrinça de diagnósticos diferenciais, pela evolução clínica que traz consigo. O tempo que delineia o conhecimento longitudinal sobre a pessoa, a família, a comunidade e os recursos e dificuldades subjacentes. O tempo partilhado por médico e paciente, dois mundos que se preparam para aquele encontro de cuidar. E este tempo que, além de pautado por partilhas muito pessoais da vivência do paciente, acontece desde o nascimento até à morte, inclusivamente – e ao viver depois desta e de outras perdas. É um tempo que trata muitas vezes, que deve escutar (como se gostaria de ser escutado), cuidar e paliar sempre. É um tempo que fala de humanidade e de dignidade humana (serão distinguíveis?). É um tempo que pode ser feito, em determinadas ocasiões, só de olhar, de dar a mão ou de sorrir. É um tempo que deverá ser, sempre, de amor.
O paciente procura ser escutado e cuidado. O médico, o melhor cuidado ao seu paciente. Cada pessoa, a melhor vivência do seu tempo.
Cada um pode escolher ser a hora de pensar e de agir em conformidade com o seu precioso e limitado tempo de vida.