Embora na sessão de abertura, o secretário de Estado da Saúde António Sales, tenha reafirmado que a saúde “é uma prioridade” desta legislatura, a opinião não foi partilhada por nenhum dos intervenientes da Convenção Nacional de Saúde, a começar por José Fragata que, convidado a proferir a conferência inaugural, traçou um cenário negro mas, reiterado por outros intervenientes como sendo verdadeiro, falando de Serviço Nacional de Saúde à beira do abismo e no qual, se não atuarmos já, o investimento poderá chegar depois do desaparecimento do SNS. O médico cirurgião e vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa, José Fragata, que trabalha no SNS há mais de 4 décadas, não hesitou em afirmar que “estamos muito perto do ponto de não retorno”. Um lamento ao qual acrescentou o facto do SNS estar a perder profissionais por culpa desse desinvestimento. “Sem melhorias salariais e melhores projetos” em termos de carreiras, a “diáspora médica” vai continuar, considera. José Fragata citou os números desse exôdo: 2152 médicos deixaram Portugal desde 2014. “Muitos não regressam mais… (…) Só mais investimento não será suficiente. Começam a faltar as pessoas”. Razão pela qual, “é preciso atuar agora” – opinião partilhada por Miguel Guimarães, chairman da Convenção Nacional de Saúde e bastonário da OM, a quem José Fragata dirigiu um agradecimento por “em todos os fóruns de discussão”, primar pela defesa dos doentes e de melhor saúde para os portugueses. O bastonário explicou que, de todas as faixas etárias, e em todas as unidades de saúde que visita, o que se sente é o desespero e sofrimento ético de todos os profissionais em geral e dos médicos em particular. Defensor de opiniões fundamentadas, Miguel Guimarães desafiou os políticos a fazerem um périplo como o seu, por todos os hospitais do país, para que possam ter opiniões fundamentadas na realidade e não em estatísticas que não correspondem às dificuldades que se sentem no terreno. “É preciso cuidar de quem cuida de nós”, concluiu, enaltecendo os muitos milhares de atos médicos que se fazem em apenas 24 horas e dos quais depende a saúde dos portugueses.