“Medicina é uma área vasta e de dificuldade considerável, logo desde os tempos académicos. Torna-se ainda mais complexa quando existem barreiras sociais ao crescimento profissional e desenvolvimento de uma carreira. Ser médico é um desafio. Ser médica é um desafio ainda maior”, alerta Gabriela Sousa, aluna do 6º ano do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
No passado dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a Ordem dos Médicos questionou quatro alunas de diferentes universidades de Medicina do país, acerca das suas preocupações para o futuro, enquanto mulheres e futuras médicas.
A igualdade de género foi um dos problemas vincados pelas alunas que acreditam que ainda há muito trabalho a ser feito neste campo. Célia Araújo, aluna do 4º ano da Escola de Medicina da Universidade do Minho, deu como exemplo a forma como, ainda hoje em dia, médicos e médicas são tratados de maneira diferente pelos próprios doentes, alegando que “continuamos a ser chamadas de “meninas” face aos nossos colegas [homens] que são chamados de doutores”.
Um dos temas mais preocupantes, na visão destas jovens, é o difícil acesso das mulheres a cargos de chefia na área da saúde, sendo que esta ocorrência pode ser atribuída a fatores como a “ideia retrógrada do papel social da mulher, que ainda prevalece vincado na sociedade”, afirma Madalena Rezendes, aluna do 4º ano da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Neste âmbito, defendem que “os critérios de seleção de um cargo de chefia deveriam debruçar-se mais sobre a aptidão profissional, referências prévias e curriculum vitae” e relembram que questões como a maternidade “continuam a ser assumidas pelas entidades patronais como um fardo”. Quando, na verdade, “de uma forma geral, o intelecto feminino possui características que o tornam único na sua abordagem e raciocínio. A capacidade de desempenhar várias tarefas de forma eficaz ao mesmo tempo, a sensibilidade na relação médico-doente, o envolvimento do doente na tomada de decisão, a otimização de recursos, o cuidado no atendimento às populações vulneráveis e o respeito pelas preferências individuais dos doentes são aspetos inerentes à condição feminina”, reitera Joana Pires, aluna do 3º ano da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior.
Ambicionando cargos de chefia, todas estas jovens reconhecem que “para quem aspira algum dia vir ter um cargo de chefia, o caminho que terá que seguir ainda é, infelizmente, muito duro”, mas reconhecem que “é uma questão de tempo até começarmos a ver mais mulheres em cargos de destaque. Os resultados ainda são escassos, mas se continuarmos a resistir a este padrão social e nos mantivermos unidas iremos conseguir alcançar uma igualdade de direitos entre médicos e médicas.
Para celebrar este dia tão importante e a luta pela igualdade de género, estas jovens mulheres e futuras médicas comprometem-se a lutar pelo “direito das mulheres de protagonizar a tomada de decisões em todas as áreas da sua vida, com remuneração justa, oportunidades semelhantes, e o fim de todas as formas de violência contra a mulher”.