Durante o 11º Encontro Nacional das USF, que decorreu nos dias 29 e 30 de novembro, no Monte da Caparica – Almada, na Cooperativa de Ensino Superior Egas Moniz, André Biscaia, médico de família, USF Marginal, coordenador do estudo, apresentou os resultados do estudo “o momento atual da reforma dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal 2018/2019”Questionário aos coordenadores de USF. André Biscaia explicou que “o desafio é conseguir elencar problemas mas com propostas concretas de solução”. Para realizar este estudo, a equipa que coordena – e que inclui ainda o médico António Pereira e os enfermeiros Rui Cardeira e Amanda Cavada Fehn – contactou 538 coordenadores de USF e fez a recolha de dados de março a outubro, sendo concluído em novembro de 2019, o que demonstra a sua atualidade na análise das questões da qualidade, recursos humanos, gestão, etc. André Biscaia lamentou que as despesas e as restrições financeiras sejam “omnipresentes” no nosso SNS e explicou que é preciso encontrar soluções para que a passagem de modelo A a modelo B aconteça sem conflitos. “Desde 2005 que Portugal tem em termos de mortalidade evitável melhores resultados do que a média europeia”, evidenciou, lembrando que esse indicador reflete doenças geridas com eficácia ao nível dos CSP, “se assim não fosse gastava-se mais dinheiro com a doença do que se gasta com as USFs modelo B”, alertou, referindo que no estudo se conclui que “mais de 91,71% das USFs modelo A querem evoluir para modelo B” mas alertando que “cortando a capacidade de progressão perde-se a motivação e a razão de ser da reforma”. André Biscaia defendeu que se vá criando condições para que seja possível atribuir a cada cidadão a sua equipa de família. Num ano em que houve 86 candidaturas a modelo B e 42 a modelo A, André Biscaia apelou à consistência e transparência de critérios. De 2009 para 2019 os resultados mudaram muito, como explicou: “os satisfeitos e muito satisfeitos eram 60% e agora são 27%”, sendo o nível mais alto de insatisfação com a atuação da SPMS, ACSS, ARSs, Ministério da Saúde, etc. Só “de 2016 para 2019 a insatisfação com o Ministério da Saúde aumentou 4 vezes”. “Este ano acho que o sistema amplifica velhos problemas, ou não ouve e nem reage”, lamentou, acrescentando: “alguma coisa tem sido feita mas há uma inércia e o sistema não é responsivo em tempo útil”, deixando nota de que durante este ano mais de 91% das USF tiveram faltas de material básico. “Temos que passar à ação com medidas concretas”, “fortalecer a relação com a comunidade o que não é fácil”, “promover a literacia” e “ter um plano de recursos humanos nacional a curto prazo”, problema grave que exemplificou referindo a dificuldade em substituir um profissional que tenha uma baixa prolongada. Presente no encontro, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães defendeu que “todos teríamos vantagens em ter USFs modelo B porque melhoram o trabalho de equipa em particular e os CSP em geral”. “Temos que acabar com as quotas administrativas na passagem e, quando se cumpram os critérios exigidos, as USFs têm que passar automaticamente a modelo B”, defendeu, referindo a expectativa de que o governo cumpra as indicações que deu a os portugueses de que quer investir mais na saúde. “Um maior investimento é um aspeto é fundamental para prosseguir com a reforma dos CSP”, a qual classificou como “a grande reforma que se fez nos SNS nos últimos anos”. Referenciando as várias vertentes em que é preciso atuar, citou a necessidade de diminuir as lista de utentes, a importância de promover a educação para a saúde, os incentivos institucionais, a melhoria das questões informáticas, etc. Sobre a falta de material básico, Miguel Guimarães considerou inaceitável pois refere-se a consumíveis de baixo custo mas que fazem diferença no bom funcionamento das unidades de saúde. A terminar, o bastonário fez questão de testemunhar o seu agradecimento público pelo serviço que os médicos de família têm prestado ao país. “Temos resultados em saúde que não acontecem de um momento para o outro. É a vocês que se devem e merecem ser respeitados pela grande qualidade dos cuidados prestados”. “Senhora Ministra: se valorizar o trabalho dos médicos estou seguro que eles irão escolher por sua livre e espontânea vontade trabalhar no SNS”, concluiu Miguel Guimarães, num apelo a esse respeito e reconhecimento merecido e devido a todos os médicos, de todas as especialidades, que foi envolto numa salva de palmas.