O Bastonário da Ordem dos Médicos (OM) considera que o risco de rotura da Urgência Pediátrica do HESE, devido à falta de médicos especialistas “é mais uma das muitas faces visíveis do desinvestimento a que tem sido sujeito o Serviço Nacional de Saúde (SNS) na última década”. “Dificuldades que se acentuam nas unidades de Saúde das regiões do Interior”, lamenta.
“A Ordem dos Médicos vai responsabilizar o ministro da Saúde pela segurança clínica dos doentes e dos médicos, instando o Governo a resolver rapidamente a situação e pedindo a intervenção dos deputados da Assembleia da República”. Miguel Guimarães reage assim ao documento que lhe foi remetido, assinado pelos médicos pediatras do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) e que dão conta do “descontentamento com as condições de trabalho e de assistência que são atualmente praticadas no Serviço de Urgência Pediátrica” do hospital.
“A Ordem dos Médicos tem vindo a alertar que em muitas unidades de Saúde as escalas de serviço só são asseguradas graças ao esforço e dedicação exemplar dos médicos, que asseguram, muitas vezes com prejuízo pessoal, escalas sucessivas para evitar que falhe a prestação de cuidados de saúde aos utentes do SNS”, frisa o Bastonário da Ordem dos Médicos. “A denúncia pública dos médicos do Hospital de Évora , que foi também remetida à Ordem, é o resultado da exaustão em que muitos destes colegas se encontram”, acrescenta.
Para o Bastonário da Ordem dos Médicos “é de lamentar que no recente concurso para a colocação de jovens médicos especialistas apenas esteja prevista uma vaga para cirurgia pediátrica no Hospital do Espírito Santo de Évora, não está contemplada qualquer vaga para a especialidade de Pediatria”. “Quando se sabe que um terço do quadro médico deste hospital já não faz serviço de urgência por ter atingido o limite da idade que lhes permite essa dispensa ou por estarem integrados na Urgência da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, não se percebe que o Ministério da Saúde não tenha procurado reforçar uma unidade claramente carenciada”.
A Ordem dos Médicos recorda que aos problemas associados ao escasso quadro de pessoal médico se juntam ainda instalações desadequadas à atual realidade dos cuidados de saúde prestados, deficiências que a tutela tem ignorado apesar das sucessivas queixas e alertas dos médicos especialistas.
“É o reflexo da política de desinvestimento em Saúde de sucessivos governos que têm negligenciado os cuidados de saúde no Interior do país”, assevera Miguel Guimarães. O bastonário lamenta que “apesar dos sucessivos alertas se continuem a acentuar as clivagens regionais no País, contribuindo, cada vez mais, para que haja portugueses de primeira e de segunda, com acesso a cuidados de saúde condicionado em função do código postal”.
O Bastonário frisa que a proposta apresentada pela Administração Regional de Saúde do Alentejo de contratar mais médicos em regime de prestação de serviços “apenas pode ser encarada como uma solução temporária para evitar a rotura do serviço enquanto não são contratados especialistas para os quadros do hospital”. Miguel Guimarães deixa ainda um aviso aos responsáveis da unidade hospitalar e da ARS do Alentejo: “Os oitos internos de especialidade que fazem a sua formação especializada no HESE não podem substituir médicos especialistas e a sua intervenção na Urgência Pediátrica deve ser limitada ao estipulado no regulamento do Internato Médico. A direção clínica do HESE tem especial responsabilidade para zelar pelo cumprimento da legislação em vigor no que aos internatos médicos diz respeito”, afiança.