O Conselho Sub-Regional de Braga da Ordem dos Médicos e o Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho promoveram uma ação de sensibilização sobre a violência contra os profissionais de saúde. “Respeito por quem protege” foi o mote desta iniciativa, que decorreu no dia 13 de outubro, no Hospital de Braga e na Escola de Medicina da Universidade do Minho.
A violência contra profissionais de saúde no local de trabalho tem-se revelado um problema generalizado e muito frequente, não só em Portugal mas em todo o Mundo. Portanto, deve ser considerada uma disfunção grave do sistema de saúde e, como tal, combatida. Até porque é um flagelo que afeta todos nós. O Serviço Nacional de Saúde é composto por cerca de 140 mil profissionais que, estima-se, produzem anualmente 60 milhões de interações com os utentes do SNS. Neste ano de pandemia foram registados 825 episódios no sistema de notificações de violência contra os profissionais de saúde que existe há vários anos no SNS. Em 2019 tinham sido 950 denúncias. Ou seja, em ano de pandemia foram agredidos diariamente dois profissionais de saúde.
Face a esta problemática, que “tem aumentado substancialmente”, a Ordem dos Médicos não poderia ficar indiferente. Nesse sentido, o Conselho Sub-Regional de Braga e o Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho uniram-se para sensibilizar os cidadãos e alertar os profissionais de saúde para a importância da denúncia. Apesar de todas as evidências e casos que chegam a público, existem ainda muitas situações que não são denunciadas. E não são apenas médicos e enfermeiros os alvos da violência. O problema afeta também os assistentes técnicos, os assistentes operacionais, os técnicos de diagnóstico e terapêutica e os assistentes sociais. As formas de violência mais comuns são a agressão verbal, as injúrias e as ofensas que representam mais de 60% das denúncias. Seguem-se a violência física (13%), a violência patrimonial e “alguns casos de assédio”.
A ação de sensibilização teve lugar no Hospital de Braga, no período da manhã. André Santos Luís, presidente do Conselho Sub-Regional de Braga coordenou a entrega de folhetos alusivos ao tema aos utentes da instituição e pins aos profissionais de saúde, para que se juntassem a esta causa. Alguns elementos do NEMUM, liderado por Marisa Coelho, participaram na iniciativa de forma ativa.
Já da parte da tarde, a Escola de Medicina da Universidade do Minho recebeu uma conferência sob o mesmo mote, dividida em três sessões temáticas: “Violência contra profissionais de Saúde em Portugal, “Como agir perante uma situação de violência contra um profissional de saúde?” e “A perspetiva jurídica da violência contra os profissionais de saúde”.
Dalila Veiga, presidente do Conselho Sub-Regional do Porto da Ordem dos Médicos, foi a primeira oradora desta sessão e alertou para o facto de esta ser “uma realidade cada vez mais frequente”. Apesar de não ser um problema novo, ainda “não se conhece bem a sua dimensão” porque muitos casos não são reportados. “É importante refletir que a violência contra um profissional de saúde destrói, por completo, a relação médico-doente. É uma relação que se espera de confiança e se existe um episódio de violência, essa relação está absolutamente condenada e o nosso exercício normal de Medicina, que deve ser feito num clima livre de qualquer tipo de coação, não pode ser feito nessas condições. Portanto, é necessário assegurar um ambiente em que os profissionais de saúde exerçam as suas funções sem este tipo de ameaças”, alertou.
Como representante do Gabinete de Apoio ao Médico da Ordem dos Médicos, Dalila Veiga explicou como este funciona e como os profissionais devem reportar situações de violência e burnout. Reconhecendo que ainda temos “um longo caminho a percorrer”, a presidente do Conselho Sub-Regional do Porto sublinhou o “capital humano” como o grande pilar do SNS e que “a Ordem somos todos nós”.
O psicólogo e professor da Universidade do Minho, Pedro Teixeira, partilhou uma reflexão sobre a importância de “prestar apoio psicológico aos profissionais perante estas situações”. Para o convidado, o primeiro passo para compreender um problema é perceber a sua dimensão. Recuperar a “humanização dos cuidados de saúde”, transformar os sistemas de saúde, “onde deve imperar a aprendizagem” e manter uma “comunicação eficaz” foram algumas ideias sublinhadas durante esta intervenção.
Para encerrar a sessão, Inês Folhadela, consultora jurídica da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) trouxe a debate a “perspetiva legal e quais os mecanismos que nós temos para atuar em caso de violência”.
No mesmo dia em que a COVID-19 chegou a Portugal, a 2 de março de 2020, começou a funcionar o Gabinete de Segurança para a Prevenção e Combate à Violência contra os Profissionais de Saúde. Importa que cada episódio de violência seja abordado como um acontecimento de elevada importância, devendo ser analisado segundo uma metodologia previamente definida e conduzir a medidas que minimizem as consequências da violência e previnam episódios futuros, atuando sobre as causas. Deve ser criado nas instituições de saúde um ambiente de erradicação do problema e de apoio e suporte às vítimas de violência. Assim, qualquer episódio de violência deve ser registado, ter uma avaliação aprofundada e levar à tomada das medidas consideradas necessárias.