Numa altura em que a pandemia está a criar de novo mais pressão no sistema de saúde e em que os doentes não Covid-19 continuam a não ver o acesso aos seus médicos de sempre totalmente reposto, a saúde tem voltado a concentrar a atenção mediática, sobretudo com a aproximação das eleições legislativas e apresentação dos programas políticos dos vários partidos.
A CNN Portugal questionou o bastonário da Ordem dos Médicos, no mesmo dia em que viria a acontecer o debate televisivo entre António Costa e Rui Rio, para perceber se estão delineadas as respostas necessárias para atrair mais médicos e outros profissionais para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Na entrevista, Miguel Guimarães reconheceu que “a questão central não é respondida” em nenhum dos programas. Por isso, o bastonário reforça que é vital para o futuro do SNS apostar mais nas pessoas que o constroem todos os dias e que essa deve ser a prioridade para todos os partidos.
“Temos um SNS a funcionar como funcionava há 42 anos. O SNS ainda não se adaptou àquilo que são as realidades atuais e o SNS para sobreviver tem de ser mais competitivo – e ser mais competitivo significa valorizar mais as pessoas que lá trabalham”, disse o bastonário. No caso dos médicos, Miguel Guimarães exemplificou que é urgente proporcionar melhores condições de trabalho, o que passa por permitir o acesso à inovação terapêutica e tecnológica, mas também prever tempo protegido para investigação no horário de trabalho.
Porém, alertou que também é preciso melhorar as remunerações, lembrando que quer no setor privado quer no estrangeiro são dadas outras hipóteses aos médicos que se tornam mais atrativas. Para o bastonário, as carreiras foram a génese do SNS e o futuro só pode ser mais positivo se investirmos verdadeiramente na progressão de quem todos os dias salva vidas, sendo que o que acaba por acontecer são atrasos na abertura dos concursos ou congelamentos permanentes das progressões.
Miguel Guimarães considera que é ilusório dizer que o SNS não precisa de mais dinheiro, mas apenas de mais gestão. “A rentabilidade que existe no SNS é de facto muito elevada, conseguimos fazer muito com pouco, basta pensar no combate à pandemia”, destacou, apelando a que a governação e a liderança clínica possam ser exercidas de forma mais livre e autónoma para melhorar os cuidados proporcionados aos doentes e as condições de trabalho para os médicos e outros profissionais.
Em síntese, independentemente do que está inscrito em cada programa, o bastonário considera que de pouco serve enumerar projetos que se pretendem concretizar, esquecendo que para a sua concretização precisamos de capital humano. Miguel Guimarães deu como exemplo a eterna promessa de ambos os partidos de atribuir um médico de família a todos os portugueses e que está sempre a ser adiada por falta de vontade política de repensar a contratação pública.