O Ano Novo desperta a esperança de mudança em todos os setores, a saúde não é diferente. Existem grandes expetativas de uma mudança que traga melhorias para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Existe esperança mais recente na equipa ministral e na, recentemente criada, Direção-Executiva do SNS. No entanto, importa saber se esta esperança tem fundamento, importa saber se a tutela está em sintonia com as reformas que precisam de ser concebidas, importa saber se as prioridades dos profissionais de saúde são as mesmas que as de quem governa.
A valorização dos recursos humanos é a prioridade que mais tem vindo a ser apontada pelos profissionais de saúde, não só este ano. Apesar de o ministro da Saúde ter reunido com várias classes profissionais e o diretor-executivo do SNS ter defendido a valorização dos recursos humanos, a verdade é que os profissionais de saúde não se sentem valorizados e não têm perspetivas de quando é que o cenário irá mudar.
Durante grande parte do tempo em que tem representado a classe médica, Miguel Guimarães tem alertado para que a medida mais urgente, em resposta ao que está a acontecer no SNS, é criar condições de trabalho adequadas para os médicos e para todos os profissionais de saúde.
“Quando falo em condições de trabalho, falo em condições que incluam desde a prática com qualidade, ao acesso à investigação, à inovação tecnológica e terapêutica, bem como em condições de apoio a situações de burnout e de sofrimento ético”, disse em entrevista ao Diário de Notícias. “É preciso criar um conjunto de condições que comecem na valorização do trabalho e que acabem nos apoios que o Estado tem obrigação de dar nas questões relacionadas com o burnout, o sofrimento ético e a violência contra os profissionais de Saúde”, adicionou.
O representante dos médicos acredita que, apesar das negociações existentes entre os sindicatos das várias classes e a tutela, se este objetivo não ficar apontado até ao final de 2022, então dificilmente será possível inverter a rampa deslizante a que se assiste na Saúde.
“Se não mudarmos o paradigma da valorização dos recursos, não conseguiremos resolver o resto, por muito boas medidas que tomemos no plano da gestão para se tentar a eficiência”, alertou.
Em segundo lugar, o bastonário da Ordem dos Médicos alertou para os obstáculos existentes relacionados com a gestão. “É fundamental que se implemente rapidamente um novo modelo de gestão que nos afaste do atual, que está baseado na teoria burocrática de Max Webber – ou seja, um modelo muito rígido que não permite tomar decisões rápidas, nomeadamente que permitam às unidades de saúde contratar os profissionais de que necessitam ou renovar os seus equipamentos.”
Este é um tópico constante nas recomendações feitas por Miguel Guimarães, que considera que se o modelo de gestão não mudar, não será possível adaptar a resposta às necessidades da população.
“Este modelo de gestão teria de incluir a responsabilidade das administrações, orçamentos reais – porque sabemos que os orçamentos, como por exemplo dos hospitais, são sempre inferiores ao que são as necessidades -, e o funcionamento em rede das unidades de saúde”, explicou.
O bastonário da Ordem dos Médicos considera que para o ano de 2023, a tutela deverá ter como terceira prioridade uma articulação forte de cuidados entre hospitais e cuidados primários, com vias verdes para doentes mais graves.
“Se fizermos isto vamos diminuir o fluxo de doentes nos Serviços de Urgência dos hospitais, podendo melhorar as respostas”, reiterou.
Miguel Guimarães aludiu, ainda, ao processo de inovação digital, nomeadamente no que toca ao Registo único do doente.