O temido (e desadequado) exame Harrison, em vigor há 4 décadas, tem os dias contados: foi hoje assinado um protocolo entre a Administração Central do Sistema de Saúde, I. P., (ACSS), a Ordem dos Médicos e as Escolas Médicas Portuguesas para estabelecer as condições para a preparação e realização da Prova Nacional de Acesso à Formação Médica Especializada (PNA) no âmbito do internato médico, incluindo a criação do Gabinete da Prova Nacional de Acesso à Formação Médica Especializada (GPNA) e a formação dos membros técnicos do GPNA e dos membros do júri. Na assinatura do protocolo – que decorreu na sede da Ordem dos Médicos no Porto – estiveram Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde, Fernando Araújo, secretário de Estado e Adjunto, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a presidente do conselho diretivo da ACSS, Marta Temido, Maria Amélia Duarte Ferreira, coordenadora do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas, António Sarmento, que presidiu à Comissão Nacional para a criação do novo modelo de PNA, Carlos Cortes, presidente do Conselho Regional do Centro da OM, e António Araújo, presidente do Conselho Regional do Norte da OM e Rita Ramalho da ANEM em representação dos estudantes de medicina.
Perante a necessidade de mudar a matriz da prova de seriação, havia sido nomeada uma Comissão Nacional para a criação do novo modelo de PNA, presidida por António Sarmento, professor catedrático convidado do Departamento de Medicina da FMUP, comissão na qual estiveram envolvidas as faculdades, a Ordem dos Médicos, representantes dos exames anteriores, a ACSS, o Ministério, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina e os Colégios da Especialidade de cada uma das áreas da Medicina que se propõe avaliar com a nova prova. Esta Comissão Nacional elaborou um relatório, com recomendações, que remeteu à tutela em março de 2017 e que foi alvo de consulta pública, culminando na assinatura deste protocolo. Até agora a bibliografia da PNA era o livro originalmente editado pelo cardiologista Tinsley Harrison que se focava apenas nas áreas da Medicina Interna e que estava estruturado de forma a avaliar a capacidade de memorização. O Gabinete da Prova Nacional de Acesso à Formação Médica Especializada irá agora definir uma prova piloto para ser testada em 2018 e terá que assegurar que, tal como recomendado, a matriz e bibliografia da PNA sejam publicadas pelo menos 18 meses antes da realização da prova efetiva. Em declarações à Lusa, Miguel Guimarães explicou a importância histórica desta assinatura e de todo o processo que inicia pois “vai mudar o ensino da medicina em Portugal”, congratulando-se pelo facto de “finalmente” se ter chegado “a um acordo para mudar a prova de acesso à especialidade”. Miguel Guimarães recordou que há muito que se reclamava uma prova que contemplasse mais raciocínio clínico, pois a atual seria pela memória e não valoriza a capacidade clínica, centrando-se mais na capacidade de memorizar centenas de páginas do que na prática médica.
O novo exame terá por base histórias clínicas para pôr à prova o raciocínio dos candidatos tornando-se muito mais adequada pois, como explicou Miguel Guimarães à Lusa, “a memória é uma peça central de qualquer conhecimento, mas em profissões como a médica, a capacidade de raciocínio clínico é fundamental”.