A AEMH, em parceria com a UEMS e outras as associações médicas europeias, promoveu a Academia Europeia de Liderança Clínica, focada na procura do desenvolvimento e aprofundamento de competência dos médicos nessa área. A pandemia de COVID-19 demonstrou bem a importância da liderança clínica a nível mundial. A criação desta Academia tem por base os muitos estudos realizados nesta área (no Reino Unido, Nova Zelândia, Estados Unidos, Suécia, etc.) que concluem que as instituições de saúde geridas por médicos podem alcançar melhores resultados clínicos e financeiros. O facto de termos médicos em cargos de liderança também traz a ética para o sistema de saúde, o que é essencial pois não há prática médica sem ética. Com têm defendido as associações médicas europeias, sistemas de saúde sem ética geram um vazio espiritual e uma perda de sentido que afeta quem trabalha nesses sistemas. Os sistemas de saúde precisam de valores como disciplina, verdade, respeito, dedicação, espírito de equipa, solidariedade, perseverança e resiliência, numa verdadeira ética aplicada, considerando que a liderança clínica dos médicos representa o meio para aplicar esses valores e que são a melhor forma de prevenir a violência e o burnout contra os profissionais de saúde.
Filipa Lança, João de Deus e José Santos são os primeiros médicos portugueses a obter a aprovação no fellowship da recém criada Academia Europeia de Liderança Clínica, uma realização que é motivo de regozijo e orgulho. Esta distinção é particularmente importante se tivermos em conta que a gestão dos serviços de saúde tem particularidades que a distinguem dos outros setores e que podem representar obstáculos à implementação de programas de qualidade que acautelem as necessidades dos doentes e a melhor gestão das prioridades na saúde, nomeadamente quanto às implicações financeiras.
João de Deus é médico oftalmologista e coordenador do departamento internacional da Ordem dos Médicos, atual presidente da FEMS e era presidente da AEMH em 2016 quando esta organização propôs a criação de um grupo de trabalho sobre liderança clínica, naquele que viria a ser o primeiro passo para a criação da Academia. O atual presidente da AEMH, Theo Merholz, principal promotor da Academia Europeia de Liderança Clínica fazia parte da direção presidida por João de Deus.
“A AEMH representa os médicos hospitalares seniores da Europa e visa melhorar as condições de trabalho dos nossos membros. Em todos os nossos estados membros, os médicos nos hospitais aperceberam-se de uma transferência da tarefa de gestão hospitalar dos médicos para gestores sem formação clínica. Essa tendência de preferência pela economia não é salutar para o desempenho geral dos hospitais. O triplo objetivo de melhorar o atendimento, alcançar uma saúde melhor e reduzir os custos nos hospitais só é possível quando todas as profissões trabalham em conjunto. Isso significa melhorar e demonstrar liderança clínica (médica).” contextualiza o atual presidente da AEMH, Theo Merholz.
José Santos, médico do departamento internacional da OM que preside à CEOM (instituição que lidera na Europa a defesa das questões de ética e deontologia e que tem desenvolvido, em conjunto com as outras associações médicas europeias, um extenso trabalho na área do combate à violência e ao burnout), refere precisamente o orgulho de estar entre os 9 primeiros médicos que realizaram o exame europeu, três dos quais portugueses, num processo que incluiu o desenho e apresentação de um projeto para organização de uma direção de serviço, uma formação que lhes permitirá “fazer face aos desafios e exigências da liderança clínica” por estarem dotados de ferramentas específicas que potenciam as suas capacidades na área da gestão clínica.
Por Filipa Lança também frisa como o facto de “ter sido uma das primeiras médicas em Portugal (na Europa) a obter a aprovação neste fellowship é motivo de grande satisfação pessoal, mas também de renovação de motivação e responsabilização no percurso profissional que tenho trilhado”.
Na foto a comitiva portuguesa que esteve na reunião conjunta da FEMS-AEMH em que se discutiram importantes questões para o futuro dos médicos europeus, como as condições de trabalho, o burnout e a liderança clínica, que se realizou a 13-14 de maio 2022 na Áustria: Hugo Cadavez e Paulo Simões (SIM), Noel Carrilho e Joana Bordalo e Sá (FNAM) e os três primeiros médicos portugueses que obtiveram a aprovação no fellowship da Academia Europeia de Liderança, Filipa Lança (médica anestesiologista, do Conselho Regional do Sul da OM), José Santos (presidente da CEOM) e João de Deus (presidente da FEMS).