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Prevenção quinquenária em tempos de pandemia

Autora: Rosana Dantas, médica interna de Formação Especifica em Medicina Geral e Familiar (ACeS Cávado I, Braga)

 

Os médicos estão numa posição privilegiada para praticar medicina preventiva. A prevenção é definida como um conjunto de ações para evitar complicações futuras de doenças. As estratégias de prevenção devem ser custo-efetivas, pelo que é necessário encontrar para cada intervenção o seu perfil de benefício, mas também o seu perfil de malefício. Neste contexto, em saúde, falamos em níveis de prevenção de doença. Assim, a prevenção pode ser dividida em vários níveis: a prevenção primordial, que atua nas condições que podem levar ao aparecimento dos fatores de risco e tem como objetivo evitar o aparecimento de estilos de vida que contribuam para um elevado risco de doença; a prevenção primária, que reduz a suscetibilidade das pessoas às doenças, sendo a vacinação e a educação para a saúde exemplos disso; a prevenção secundária que consiste na deteção precoce da doença de modo a que o tratamento possa ser iniciado antes de ocorrerem danos irreversíveis; a prevenção terciária que corresponde à gestão da doença instalada, de modo a minimizar as deficiências por ela provocadas; e, por último, surge a prevenção quaternária, que envolve intervenções em profissionais de saúde de modo a reduzir a probabilidade de iatrogenia. Estes níveis assumem um papel relevante no quotidiano do médico no auxílio das decisões clinicas relativamente ao paciente.

Recentemente surgiu um novo nível de prevenção – a prevenção quinquenária, que consta em acautelar o dano no doente, atuando no médico. A prevenção quinquenária surgiu da necessidade de dar resposta ao burnout médico, ou seja, reconhecer esta entidade como um fator de risco que poderá comprometer a prestação de cuidados de saúde.

O burnout é definido como um estado de plena exaustão física e/ou psicológica que germina da produção contínua e intensiva de respostas concertadas perante as elevadas exigências no local de trabalho1.

No contexto da pandemia do COVID-19 é importante refletirmos sobre este tema. O esgotamento médico e a eventual rotura dos serviços de saúde que, nesta fase, estão na linha da frente, deverá ser uma preocupação de todos. O burnout, sobretudo numa fase de maior exigência de resposta dos cuidados de saúde, poderá pôr em causa tanto a qualidade dos cuidados prestados aos doentes como também a relação médico-doente.

O surto pandémico que atravessamos é particularmente mais rigoroso e exaustivo para todos os profissionais de saúde e, por essa razão, é imperativa a adoção de medidas que visam prevenir o burnout como, por exemplo, o apoio nos colegas de trabalho, amigos ou familiares, a participação em eventos sociais com os colegas e amigos é uma estratégia possível, bem como a atividade física regular.

Todas as estratégias que têm como objetivo aumentar a motivação dos médicos diminuindo assim situações de erro, são soluções efetivas com ganhos evidentes na produtividade e na qualidade da saúde para os médicos e, por sua vez, para os doentes nos serviços que lhes são prestados. Assim, é fácil perceber que as condições para que os profissionais de saúde se sintam bem no seu local de trabalho, são requisitos fundamentais para o sucesso das intervenções em saúde.

 

Bibliografia

(1) Santos, J. A. – Prevenção quinquenária: prevenir o dano para o paciente, actuando no médico – Revista Portuguesa Medicina Geral e Familiar, 2014;30:152-4