A abertura desta terceira sessão de entrega do Prémio Maria de Sousa coube ao Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes que enquadrou o papel da ciência e da investigação para a “defesa das pessoas e do desenvolvimento do país”, com todo o impacto “na melhoria da condição de vida das pessoas e no seu bem-estar”. Daí que, enquadrou Carlos Cortes, a Ordem dos Médicos se sinta honrada com o envolvimento neste prémio, galardão que representa “humildade”, uma característica que também é sinónimo de tudo o que tem a ver com a ciência. Como explicou, “se hoje podemos contribuir para o desenvolvimento da medicina e de outras áreas também o devemos a quem nos antecedeu”, como foi o caso de Maria de Sousa. Em “momentos difíceis” como aqueles que o sistema de saúde português atravessa, é fundamental “saudar estas iniciativas que nos transmitem esperança para o futuro”. Porque na sua evolução permanente, “a ciência ajuda-nos a ter um mundo melhor”, concluiu o Bastonário da Ordem dos Médicos.
Luís Portela, em nome da Fundação Bial, lembrou a “cientista e ser humano excecionais” e a forma como dedicou a sua vida ao desenvolvimento científico, nomeadamente na saúde. Frisando a satisfação de distinguir cinco novos investigadores, deixou a todos os galardoados “votos de construção de uma carreira muito bem sucedida” e que seja “feita com muito prazer”. “Maria de sousa está viva também nestes jovens investigadores que a seguem e como tal a celebram”.
Anabela Mota Ribeiro evocou a Professora Maria de Sousa, lembrando como, “além de cientista de exceção, escrevia também poesia” e declamou vários textos da investigadora, entre as quais a nota fúnebre que foi dedicada pela cientista a Sofia de Melo Breyner: “À terra o corpo / Ao mundo o verso / Entre nós murmúrios, pranto / Calado para sempre o canto” – “mensagem que poderia ser de nós para a Maria”, disse, situando que este texto faz parte do livro “Meu dito, meu escrito”, edição da Gradiva de 2014, que reúne poemas e monólogos de Maria de Sousa.
Anabela Mota Ribeiro evocou Maria de Sousa, lembrando como, “além de cientista de exceção, escrevia também poesia” e declamou vários textos da investigadora, entre as quais a nota fúnebre que foi dedicada pela cientista a Sofia de Melo Breyner: “À terra o corpo / Ao mundo o verso / Entre nós murmúrios, pranto / Calado para sempre o canto” – “mensagem que poderia ser de nós para a Maria”, disse, situando que este texto faz parte do livro “Meu dito, meu escrito”, edição da Gradiva de 2014, que reúne poemas e monólogos de Maria de Sousa. Das ideias fortes para que nos remete a sua poesia, mencionou “espanto, duvidar, descoberta e sabedoria” e frisou a promoção dos direitos da ciência: “o direito a saber, o direito a perguntar, à dúvida que pode ser esclarecida”.
Promovido pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial, o Prémio foi criado em homenagem à imunologista e grande investigadora Maria de Sousa (1939-2020). Pretende galardoar e apoiar jovens investigadores portugueses, com idade igual ou inferior a 35 anos, em projetos na área das ciências da saúde. Os trabalhos vencedores foram escolhidos por um Júri presidido pelo neurocientista Rui Costa, presidente e diretor executivo do Allen Institute, nos Estados Unidos. Inês Alves e João Neto, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto; Nuno Dinis Alves e Sara Calafate, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho; e Catarina Palma dos Reis, do CHULC – Maternidade Dr. Alfredo da Costa (Lisboa), são assim distinguidos pela excelência dos seus projetos de investigação com até 30 mil euros cada, incluindo um estágio num centro internacional de excelência.
Inês Alves, investigadora do i3S, propõe-se criar novas formas de diagnosticar e prever quão grave o lúpus será para cada pessoa, permitindo otimizar as estratégias de tratamento destes doentes e evitar os sintomas agressivos que caracterizam esta doença. Com este trabalho, pretende clarificar se os doentes com lúpus produzem anticorpos especiais (contra os açucares anómalos no rim), que estarão envolvidos na perda de tolerância do tecido e dano renal, concretamente identificar a presença dos anticorpos específicos contra açucares no sangue de doentes com lúpus, estudar as células B responsáveis pela sua produção e testar o efeito patológico destes anticorpos, ou seja, verificar se eles são responsáveis pela severidade e suscetibilidade da doença de lúpus. O projeto do investigador João Neto, também do i3S, centra-se num dos poucos tratamentos disponíveis para o tratamento do cancro gástrico (CG), ou seja, a terapia anti-HER2, e vai focar-se na descoberta da biologia por detrás da (falta de) eficácia destas terapias, procurando também identificar novas terapias combinadas (combinações de medicamentos), a fim de melhorar o prognóstico de doentes com CG HER2-positivos. Este projeto irá contribuir para o desenvolvimento de novas opções de tratamento para os doentes com CG HER2-positivos que não respondem, ou que adquirem resistência, ao tratamento com inibidores de HER2, permitindo melhorar o prognóstico destes doentes. Nuno Dinis Alves, investigador do ICVS, irá estudar a importância das projeções serotoninérgicas para a flexibilidade cognitiva e a sua habilidade para reverter alterações em doenças associadas com o stress crónico. Sendo a rigidez e a inflexibilidade cognitiva um dos sintomas presentes, e mais difíceis de tratar, em doentes com perturbações psiquiátricas associadas a experiências stressantes, como a depressão, é fundamental identificar os mecanismos envolvidos, de forma a melhorar as ações terapêuticas sobre estas alterações comportamentais. A investigadora Sara Calafate, também do ICVS, centra o seu projeto na doença de Alzheimer. Durante o longo período que antecede o aparecimento de sintomas de declínio cognitivo, o cérebro sofre alterações fisiológicas que resultam na desregulação da sua atividade. Para além disso, neste período os padrões de sono sofrem também alterações e os níveis inflamatórios no cérebro aumentam, mas estes sintomas passam regularmente despercebidos. O foco desta investigação é compreender como é que estas alterações iniciais ocorrem, pois elas podem explicar a progressão da doença e o aparecimento de falhas cognitivas. Catarina Palma dos Reis, do CHULC – Maternidade Dr. Alfredo da Costa, desenvolve um projeto de investigação focado na restrição de crescimento fetal (RCF), uma doença em que, por mau funcionamento da placenta, o feto não consegue obter o oxigénio e nutrientes de que necessita e fica por isso em risco de morte in útero, crescimento insuficiente e sequelas importantes a nível neurológico e cardiovascular, entre outros. No final deste projeto, a investigadora espera obter a assinatura das vesículas de gestações com RCF e contribuir para o diagnóstico desta doença.
A encerrar a cerimónia, Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que presidiu à sessão, começou por agradecer à OM e à Fundação Bial o facto de escolherem premiar “a investigação de excelência que se faz na área da Saúde” em Portugal.
A cerimónia de entrega do Prémio Maria de Sousa 3a edição – 2023 aconteceu a 16 de novembro de 2023, no Teatro Thalia, em Lisboa.