Portugal é o país da OCDE onde a remuneração dos médicos mais diminuiu, em termos reais, nos últimos anos. Esta é uma das principais conclusões que constam do relatório Health at a Glance, publicado esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
“Em alguns países, como Portugal, Eslovénia e Reino Unido, a remuneração dos médicos caiu em termos reais entre 2010 e 2019”, alerta a OCDE. A quebra foi sentida, sobretudo, entre 2010 e 2012. Contudo, a recuperação a que se assistiu depois dessa data foi residual e insuficiente para que o valor auferido em 2019, em termos reais, superasse o de 2010, continuando a ser inferior ao que era dez anos antes.
A tendência de Portugal é contrária à verificada na maior parte dos países da OCDE, onde a remuneração dos médicos aumentou desde 2010, ainda que em percentagens que variam nos diferentes países, sublinha a organização. Além de Portugal, só Reino Unido, Eslovénia, Austrália, Costa Rica e México viram os salários dos médicos cair. A lista é encabeçada por Portugal, com a maior perda: 2,2%.
De acordo com o mesmo relatório, do lado das famílias a situação também sofreu um agravamento, com 30% dos gastos totais com a saúde em Portugal a serem diretamente suportados pelos cidadãos. Nos chamados pagamentos out-of-pocket, isto é, nos suportados diretamente pelas famílias, houve um acréscimo de 5 pontos percentuais em Portugal, para 30%, de seis pontos na Grécia (para 35%) e de três pontos em Espanha (para 22%).
Apesar do crescimento da despesa pública em muitos países analisados no Health at a Glance, Portugal foi um dos três países da OCDE em que os gastos com a saúde per capita diminuíram em 2019-2020 em comparação com o período compreendido entre 2015 e 2019. A redução foi observada apenas em Portugal, no Chile e na África do Sul.
No relatório, a OCDE analisou, ainda, muitos outros indicadores. O acesso presencial aos cuidados de saúde primários foi mais prejudicado em Portugal do que noutros países da OCDE com dados comparáveis. Também no acesso a cirurgias o país é referenciado como tendo tido uma deterioração dos tempos de espera para operações programadas. Apesar de não ser o país com maior excesso de mortalidade, Portugal surge entre os países analisados pela OCDE com um excesso de mortalidade acima da média (mais 14%, contra uma média de mais 11%) e entre aqueles em que a organização considera que o excesso de mortalidade foi “notavelmente mais elevado” do que as mortes atribuídas à COVID-19.
Do lado positivo, Portugal foi o país com melhor cobertura vacinal contra a COVID-19.