A Ordem dos Médicos promoveu mais um “OM Debate”, sobre o Plano de Emergência e Transformação da Saúde, durante o qual a posição da instituição ficou bem clara: saudando o facto de os médicos terem sido ouvidos para a sua construção, o que se traduziu numa importante componente clínica neste plano, Carlos Cortes explicou que “um aspeto muito importante para a Ordem foi assegurar que o plano não fosse apenas um conjunto de intenções, mas antes uma proposta para implementar no terreno (…) com medidas concretas em áreas como a Oncologia e com identificação adequada dos problemas verdadeiros do setor da saúde”. O Bastonário enquadrou a importância da governação clínica e de a saúde ser uma prioridade, e explicou que com este webinar a Ordem quis precisamente abordar as áreas menos claras do plano. “Este documento não pode ser estático, monolítico. Tal como a realidade é dinâmica, o plano também tem que ter capacidade de adaptação ao dia a dia, ao que são as necessidades das pessoas. Queremos que tenha maleabilidade”. Através do seu dirigente máximo, a Ordem demonstrou total disponibilidade para colaborar, sobretudo para defesa de “soluções que respeitem a qualidade da saúde e a dignidade da profissão médica”, congratulando-se com o amplo envolvimento dos médicos na construção do documento.
No mesmo sentido, Carlos Sottomayor, Presidente do Colégio de Oncologia Médica, reconheceu o mérito do plano recentemente apresentado: “É a primeira vez que vejo um plano integral, construído com pés e cabeça, para a saúde. (…) Penso que pode ser o princípio de um sistema muito interessante em que os médicos começam a introduzir critérios clínicos para a definição de objetivos em saúde e para o SNS”. Apesar disso, Carlos Sottomayor manifestou a sua preocupação com várias questões relacionadas com a lista de espera em Oncologia, não apenas a lista de espera cirúrgica, mas também – e especialmente – com as demoras no diagnóstico de algumas neoplasias, o que implica que se façam campanhas de prevenção. “Além de atrasos na cirurgia, quimioterapia e radioterapia, o grande atraso é no diagnóstico precoce; (…) Tudo passa por implementar o programa global de rastreio e também pelos médicos de família porque só com bons Cuidados de Saúde Primários (CSP) veremos os doentes atempadamente e só com o seu diagnóstico precoce e rápida orientação” é que conseguiremos melhorar resultados.
Nuno Jacinto, enquanto Presidente da APMGF, lamentou não ter sido ouvido, manifestando apreensão por existir no plano a referência a “médico de família ou outro médico assistente”, abrindo a porta a substituições que considera inaceitáveis como por exemplo médicos sem especialidade. “Isso seria um enorme retrocesso”, frisou. “Se assumimos os CSP como eixo central do plano de emergência, do SNS e do sistema de saúde, então temos que o construir com os médicos de família, nomeadamente porque a realidade dos CSP é diferente da realidade hospitalar”. “Mais uma vez sentimos que fomos postos de lado neste processo de decisão”.
O Presidente da Secção Regional Norte da OM e coordenador do Plano de Emergência e Transformação da Saúde, Eurico Castro Alves, que esteve igualmente presente na sessão, partilha da visão da centralidade do médico no sistema e deixou claro que a maleabilidade existe e que, tal como foi afirmado pelo Bastonário da Ordem dos Médicos que seria desejável, o documento estará sempre em evolução. Em resposta às questões que foram levantadas, além de garantir que todos os contributos são bem vindos Eurico Castro Alves explicou que foram ouvidas 167 instituições em um mês e que só por lapso não intencional a APMGF foi deixada de fora dessa auscultação. “Em momento nenhum e em nenhuma circunstância se põe em causa a importância de MGF para Portugal” e, garantiu, “o objetivo é que tenhamos médico de família para todos”, mas tal não será alcançável no imediato. Em resposta ao Colégio de Oncologia, o coordenador do Plano de Emergência e Transformação da Saúde explicou que se está a criar “um novo modelo de gestão da lista de espera, comandado e dirigido por médicos” para garantir que há uma gestão eficaz e baseada em critérios clínicos de destrinça dos doentes oncológicos.
A encerrar o debate, Carlos Cortes lembrou que há espaço para evoluir e melhorar. “Considero este plano francamente positivo. Obviamente que há arestas a limar e pontos a melhorar e estou convencido que o Ministério da Saúde e este grupo de trabalho vão estar sensíveis a estas melhorias. Há uma intenção boa de melhorar a saúde dos portugueses. Para isso acontecer a inclusão dos profissionais de saúde no sistema é essencial, todos os profissionais, obviamente com uma liderança médica”, concluiu o Bastonário da Ordem dos Médicos