Planeta Terra, um ser vivo

Autor: M. M. Camilo Sequeira, Médico aposentado

Planeta Terra, um ser vivo.

Hoje, vigésimo primeiro dia do “fique em casa”, lendo na varanda do quarto, ouvi o canto de um pássaro. Não o compreendi logo. Mas era mesmo um pássaro a cantar. Nunca tal me tinha acontecido nos últimos 23 anos. Claro que é Primavera e que nunca passei tantas horas na varanda. Mas naquele momento achei que era altura de escrever sobre o nosso companheiro de vida de antes e depois da nossa passagem pelo mundo. Sobre o planeta Terra, um ser vivo.

Também poderia chamar a este texto “Planeta Terra, um programa político”.

A Terra é um vulgar planeta do imensíssimo Universo exactamente como julgamos que os outros o são: uma acumulação mais ou menos aleatória de partículas físicas que, para simplificar, chamamos átomos. Mas tanto quanto sabemos é o único onde ocorreu uma singularidade que nos diz respeito pois, por qualquer bizarria que não compreendemos, nele vive um particular animal, o ser humano, que possui competência para saber que o planeta existe e que o animal humano existe nele.

Muitos outros seres vivos, tão acidentes biológicos como nós, já nele existiram e deixaram de existir. E há vários que nele existem ao mesmo tempo que o ser humano. Mas a nossa convicção é que somos os únicos que sabemos desta interacção que repito: que ele existe e que nós existimos nele.

Pouco ou nada sabemos sobre o que os outros seres vivos pensam acerca da Terra. Mas o que chamamos ciência ensinou-nos que a relação entre o planeta e os seus ocupantes, todos sem excepção, foi um equilíbrio partilhado durante os milhões de anos da sua existência. Fruindo uns o que o planeta dá, aceitando o outro o que a presença da vida biológica implica. Parecendo haver um continuado respeito pelo equilíbrio de interesses que, talvez mais por determinismo físico que por vontade consciente, cada parte considerará como sua vantagem.

Ou talvez não. Porque apesar deste aparente interesse mútuo o equilíbrio da relação já foi interrompido diversas vezes e quase sempre, tanto quanto o sabemos, por iniciativa da “vontade” do planeta. Nestes momentos percebe-se que esta é não só independente mas também indiferente à vida dos outros seres sendo o equilíbrio uma situação transitória que compreendemos mal por ter habitualmente uma longa duração. Mas quando a Terra cria circunstâncias de existência impossíveis para que a vida dos que a têm como residência continue sempre igual o equilíbrio perde-se e animais e plantas morrem de morte definitiva. E julgamos que esta morte é aceite passivamente tal como julgamos que estas expressões de vontade da Terra são acidentes.

Acidentes que nos convém ver como evitáveis, controláveis, que se podem dominar porque o planeta é domesticável.

Os humanos

Temos a ilusão pretensiosa de que somos animais diferentes. Por isso comandamos o que nos interessa sem qualquer preocupação com o que o planeta “pensa” disso. É mais uma expressão da nossa estupidez mas pior que isso é ser a confirmação da ausência de sentido crítico que a ideia de superioridade acarreta.

Para os humanos o planeta Terra é apenas um local de residência. Moldável aos nossos interesses, caprichos, grosseiras mediocridades. Porque nós sempre fizemos e faremos como nos apetece. É esse o próprio de quem manda. Quanto ao planeta ele que se adapte.

Hoje como ontem não temos como motivo de reflexão reconhecê-lo como um ser vivo. Até porque a nossa convicção é que sempre aceitou de forma tolerante ou indiferente partilhar o seu espaço com vários outros seres. Por isso não tem sentido admitir que o deixe de fazer em relação ao ser particular que somos nós, os humanos. Até porque “sabemos” que para o planeta nós somos absolutamente iguais aos outros animais e plantas que já viveram nele, que nele vivem hoje, que nele viverão no futuro.

No entanto apesar do muito que sabemos (ou que julgamos saber?) faz todo o sentido olhá-lo com outros olhos. Com os olhos humildes de quem percebe que o equilíbrio da nossa relação com o planeta já tem pouco de equilibrado. E que isso deve ter um custo.

E não podemos dizer que desconhecemos as consequências sobre os seres vivos na época das anteriores perturbações deste equilíbrio relacional. Pois mesmo chamando-lhes acidentes somos demasiado incomodados pela dimensão destrutiva que é a sua identidade.

Na nossa imensa vaidade acerca do poder que julgamos possuir temos o hábito de antropomorfizar tudo. Somos incapazes de perceber que se um dia de vida tem 24 horas para a maioria dos seres vivos pode ter outra expressão temporal para a minoria restante. E o planeta enquanto ser vivo bem pode ser que tenha um dia com a duração de uma era geológica ou parecido.

Bizarro? A verdade é que não sabemos.

Mas sabemos que a nossa presença no que julgamos ser uma residência sem vontade própria lhe tem causado muita dor e sofrimento. E ignoramos de todo se o seu aparente desinteresse por essas agressões se deve ou não ao seu longuíssimo tempo de reacção.

No entanto, de vez em quando, a Terra parece revelar-se por sinais mais ou menos inesperados que talvez exprimam essa reactividade e que serão alertas para nos despertarem para a iminência do fim da cooperação planeta-humanos. Mas a certeza que temos sobre a sua ausência de vontade torna-nos insensíveis a essas formas de comunicação.

E por isso continuamos cegos para o perigo que vivemos repetindo e agravando as agressões e descrevendo esses contratempos como simples acidentes desagradáveis. Mesmo os que têm consequências graves e se reconhecem como estranhos são sentidos como perturbadores apenas durante algum tempo sendo esquecidos ou desvalorizados logo que essa agressão deixa de estar mesmo em frente dos nossos olhos. E nem conseguimos, talvez nem queiramos, que pelo menos esteja presente, pedagogicamente, na nossa memória.

Somos tolos e orgulhosos da nossa ignorância porque achamos que tudo se pode controlar. Ou antes, que tudo se pode dominar. Este conceito está mais de acordo connosco: dominar com clara divisão entre dominantes e dominados.

De facto uns não querem que a memória seja limitativa da sua actividade predadora mesmo com o custo dos “acidentes”. Outros vivem desatentos em relação ao que lhes diz respeito deixando-se iludir com as fantasias que esses predadores lhes oferecem. Fantasias que são criadas especificamente para promover desatenção e dirigidas intencionalmente aos que se deixam iludir. Dominantes. Dominados.

E no entanto a extinção, outro potencial acidente, atingirá todos. Claro que o predador se julga imortal pois imagina-se livre desse destino ou sentindo-o lá para o fim da eternidade. É esta a sua ilusão. E como é incompetente para perceber o outro não consegue perceber que “o outro Terra” o vê exactamente igual ao sem-abrigo, ao honesto e ao criminoso, ao psicopata, ao filantropo, ao humanista, ao burro, ao gato, ao morcego, ao cravo, ao malmequer, ao carvalho, ao pinheiro, ao camarão, à baleia, a qualquer pedra por ele pisada no seu caminhar. Apenas carbono, oxigénio, hidrogénio. Partículas, nada mais que partículas.

É este tipo de igualdade enquanto habitantes da Terra que nos devia fazer pensar no que somos realmente e na maneira como utilizamos as competências que nos separam ou achamos que separam, dos outros aglomerados atómicos.

A Terra como o outro. Improvável?

A vida geológica deste “nosso” planeta já teve múltiplas expressões. Muito quente ou muito frio, muito líquido ou mais sólido, tempestuoso ou com acalmia, com atmosfera mais ou menos rica em tóxicos, com maior ou menor diversidade de vida. Sabemos que essas expressões, nalguns casos, implicaram o que designamos como grandes extinções “de vida” por causas que conhecemos mal. Algumas foram dramaticamente mortais com desaparecimento de mais de 70% dos seres vivos de então. Na que designamos como do Pérmico até os resistentes insectos estiveram próximo do desaparecimento.

E continuamos a estudar estas e outras manifestações de vida do planeta sem as percebermos ou aceitarmos como tal. As nossas análises e interpretações não se afastam do conforto ou das vicissitudes do antropocentrismo procurando explicações acidentais, fenómenos atmosféricos extremos, encontros que hoje achamos previsíveis como anomalias cósmicas.

Mas e a vontade do planeta? E a sua potencial reacção às manifestações do que ele interprete como desrespeito pelo equilíbrio que entende ser obrigação dos seus residentes? Aqueles, pessoas ou coisas, que deixa que nele se instalem desde que cumpram com as suas normas de colaboração. O seu tempo de reagir é longo para que seja longo o tempo de aprendizagem dessas pessoas e coisas. Mas se não aprenderem… o que pretensiosamente designamos como natureza, de vez em quando, mostra a sua agressividade contra essas entidades.

Nós, porém, sempre condicionados pela centralidade humana decidimos não valorizar essas expressões de vida “terrena” como vontade da Terra. E até inventámos deus para melhor podermos agredir o espaço onde vivemos “apenas” em função da nossa vontade. A única que reconhecemos como justamente poderosa.

É mais uma expressão da predação, mais uma ilusão, mais um sistema de controlo das maiorias por intermediários que lêem os sinais da Terra como opiniões da divindade. Mais uma forma de desviar a nossa atenção dos sinais que o planeta nos envia.

Ele diz: estou aqui, lembrem-se de mim porque o meu silêncio é a vossa oportunidade. Mas se se comportarem perturbando a nossa coabitação o equilíbrio desta perde-se e a minha reacção será percebida por vós como algo mau. Teísta? Eu chamo-lhe terreno. Da Terra. Do planeta Terra, um dos milhões e milhões de aglomerados de partículas dispersos pelo Cosmos.

Para nosso mal a promoção desse desequilíbrio tem sido a norma a que nos agarramos por julgarmos ser o preço do progresso, do desenvolvimento das sociedades complexas, da criação de bem-estar e felicidade para, como é desejo de muitos, a maioria dos seres humanos.

Ignoramos até os sinais que sabemos interpretar: deslocamos populações para o litoral dos territórios próximos do mar e concentramos aí ou nos grandes centros urbanos de interior a maioria das pessoas deixando as outras zonas abandonadas mesmo sabendo que a “natureza” rapidamente tomará conta delas. Sabemos que eliminando as relações interpessoais e as actividades que estas alimentam, reduzindo os animais de criação e as actividades agrícolas, os espaços abandonados serão invadidos por matos de forma descontrolada. Sabemos que o pagamos com incêndios de dimensão monstruosa, de agressividade incontrolável, com perdas volumosíssimas de pessoas e património que se repetem e repetem e repetem. Mas parece que não sabemos que isso mostra que o equilíbrio relacional com o planeta foi perturbado.

Apesar de sabermos que, sejam quais forem as medidas mais ou menos dispendiosas mais ou menos bem intencionadas para reduzir essa destruição, nenhuma a impedirá porquanto só a reocupação desses espaços com todo o tipo de serviços de qualquer cidade e por pessoas com actividades profissionais similares às concentradas nas grandes urbes, com salários dobrados ou triplicados em relação aos dessas grandes cidades para serem potencialmente aliciantes, poderá impedir ou pelo menos reduzir de forma significativa esta expressão do ser-se natureza.

Sabemos que é assim mas não somos capazes de reconhecer ao planeta o direito de exprimir vontade. Parece mais fácil, quiçá mais inteligente porque não fantasista ou louco (louco como tudo o que se afasta do convencional), investir sempre no mesmo, mais e mais no mesmo tipo de falsa resolução ainda que esta se revele ano após ano ser absolutamente nada.

Também sabemos que as condições de vida se vão deteriorar com a continuidade das diversas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, pelo uso continuadamente crescente dos combustíveis fósseis, pelos incêndios de grandes dimensões que não procuramos evitar com as medidas adequadas, enfim, por não usarmos alternativas energéticas a estes poluidores. Mas perdemos um tempo que não temos discutindo como poderemos fazer essa alteração ou como iremos manter o modelo de forma menos agressiva. Talvez, com muita bondade, procurando uma forma de compensar os mais sacrificados.

De facto, o que fazemos, mesmo sabendo que é mau, é discutir a forma como proceder para manter a actual estratificação social com, num lado, predadores beneficiados e no outro… os outros. Ignorando ou fingindo ignorar que a Terra ainda é o único lugar onde vivemos todos. E que é a única estrutura viva completamente indiferente a essa estratificação. É, aliás, a única entidade que nos coloca a todos exactamente no mesmo nível de relevância: a irrelevância.

E assim vamos descuidada e doidamente perdendo um tempo irrecuperável.

Saúde e vida

Este texto é sobre saúde pois a saúde da Terra é parte da nossa própria e individual saúde. Muitos de nós sabem que só existimos porque ela existe e que quando ela morrer também morreremos se, por estranha singularidade, ainda estivermos vivos. Sabem-no mesmo aqueles que imaginam o futuro do ser humano como mentes energéticas superinteligentes livres de corpos físicos e capazes de se manterem eternas fluindo de galáxia para galáxia. Mas até estes reconhecerão que por um lado ainda se não provou a viabilidade desta realidade e por outro que ser-se pessoa sem corpo, ser-se inteligente e capaz de tudo sem poder sentir o amargo ou agradável de um beliscão real é pouco interessante. Esta ideia de ter corpo é, para mim, muito importante pois continuo a achar que a vida tem graça nas quedas dos primeiros passos, nos dramas existenciais da adolescência, no singular de se gostar de alguém sabe-se lá porquê, na vida profissional por vezes aborrecida, no envelhecer reflectindo sobre o que foi existir partilhando o quotidiano com amigos. Amigos que se constroem quando somos novos, que aumentam durante o viver e que vão desaparecendo (adeus Luís Ribeiro*) à medida que o nosso existir vai sendo substituído pelo existir dos que continuarão essa nossa tão apreciada vida física em seu final.

Por isso julgo ser razoável “querer morrer depois de viver” como tem sido o habitual para os seres que partilham comigo o surpreendente incompreensível do biológico.

Para satisfazer este propósito tenho de procurar apoio nos que acreditam que esta vida limitada tem sentido. Em todos os que acreditam que promover medidas políticas que impeçam a sua destruição antes do seu natural fim biológico é fazer bem. É ter esperança num futuro que será vivido por novos com tempo para chegarem a velhos.

Defender este objectivo é respeitar a vida e a vontade do planeta que nos acolhe. É cumprir a regra de cooperação que proteja o equilíbrio que o planeta aceita. Fazendo-o de novo ou reconstruindo-o. É, com humildade, reconhecer que cometemos erros muito graves mas que talvez ainda estejamos a tempo de evitar ser castigados por eles. Este conhecimento deve ser mais uma face da esperança.

E conhecemos várias das expressões de incómodo do planeta. Chamamos-lhe alterações do clima, variações das condições atmosféricas usuais, explosões vulcânicas expectáveis, sismos com origem em locais bem conhecidos, cheias calamitosas que só ocorrem nas zonas baixas e secas assassinas onde secas ocorreriam mais cedo ou mais tarde. Tudo natural?

Questiono-me sobre se as vítimas de cada um destes acontecimentos pensariam o mesmo acerca deles quando os sabiam afastados milhares de quilómetros da sua porta e quando a sua porta por eles foi definitivamente destruída. Nunca saberemos mas julgo ser razoável acreditar que achariam urgentíssima uma generalizada mudança da nossa relação com a Terra.

Porque os factos anulam a capacidade manipuladora dos predadores e a ilusão aceite mais ou menos passivamente deixará de ter sentido seja qual for a dimensão da distracção dessas vítimas.

As doenças que causamos ao nosso planeta-residência são graves, persistentes e de longa duração obrigando-o a reagir ora mais cedo ora mais tarde. Alguns já nos chamaram o cancro da Terra porque tendo chegado ao planeta por acaso, nele crescemos e nos multiplicámos sem nunca nele pensarmos. Ignorámo-lo como verdadeiros vírus e contaminámo-lo destruindo o que tinha como continuidade assegurada.

Por isso pode ter sentido interrogarmo-nos sobre se as doenças que regular e periodicamente nos atacam com grande destruição de vidas não serão mais uma dessas expressões de reacção da Terra aos incómodos que lhe impomos.

Mudança

Mudar a nossa forma de viver é vital para o ser humano. E sabemos que mudar é possível porque já ocorreram muitas mudanças na Terra.

“Va pensiero” é uma canção de Verdi mais conhecida como “coro dos escravos”. Não é apenas um dos mais belos trechos de música coral que conheço. Há quem defenda que foi a bandeira usada pelos italianos para afirmarem publicamente o seu desejo de mudança política na época em que foi composta. Todos se reconheciam escravos quando, de pé, aclamavam “viva Verdi” nos teatros ou o escreviam pelas ruas. O artista com a omnisciência que só estes possuem criou uma canção símbolo da opressão dando aos que desejavam a mudança uma forma de o exprimir publicamente que os dominadores não sabiam combater. Por isso por todo o país se ouvia a peça musical e um viva “Vittorio Emmanuele Re D´Italia”. Um viva à mudança que se desejava e se tornou possível.

Agradeçamos aos artistas por nos darem instrumentos para combater todo o tipo de opressão. A de que tantos somos vítimas e a que todos exercemos sobre a Terra. Valendo a pena salientar que neste caso a mudança necessária é o futuro.

Nota final

Hoje, vigésimo primeiro dia do “fique em casa”, lendo na varanda do quarto, ouvi o canto de um pássaro. Não o compreendi logo. Mas era mesmo um pássaro a cantar. Nunca tal me tinha acontecido nos últimos 23 anos. Claro que é Primavera e que nunca passei tantas horas na varanda. Mas naquele momento achei que era altura de escrever sobre o nosso companheiro de vida de antes e depois da nossa passagem pelo mundo. Sobre o planeta Terra, um ser vivo.

Mas pensei mais. Pensei que o mundo de hoje está em profundo sofrimento reactivo a uma doença que sente como uma agressão sem sentido e que muitos consideram inesperada. Parece impossível estar-se pior. Mas não é. Porquanto este planeta que continuadamente agredimos é indiferente a esse sofrimento e pode manifestar-se de novo em qualquer momento: e se ocorresse agora um terramoto superficial Richter 8 ou 8,5? – Todos devíamos pensar nisto.

“Planeta Terra, um ser vivo e um programa político”. Ambos os conceitos vinculados à Europa por esta ser uma soma de diferenças que se têm de desconstruir se quiser sobreviver. Tal como nós em relação à Terra só sobreviveremos se a colocarmos como prioridade de tudo em tudo e sempre.

(*) Luís Ribeiro era Professor do Técnico. Uma autoridade em águas residuais reconhecido dentro e fora de Portugal. Teve morte súbita nos seus 60 anos na madrugada de 3 de Abril, o 16º dia do “fique em casa”. Era um espírito lúcido, crítico, inteligente, observador irónico e espantosamente analítico. Tinha pelas artes uma paixão tão participativa que mesmo o seu trabalho científico era colorido por elas. A sociedade civil perdeu-o sem disso se dar conta e sem perceber o que com a sua morte se perdia. Mas eu chorei.