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Parecer: a manobra de Kristeller está a ser ou não aconselhada realizar em parturientes?

Solicitado a pronunciar-se, o Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia emitiu o seguinte parecer:

A manobra de Kristeller está a ser ou não aconselhada realizar em parturientes?

Não foi publicada até à data nenhuma recomendação do Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos sobre a manobra de Kristeller.

Em versão atual, a manobra apresentada no século XIX pelo obstetra Alemão, Samuel Kristeller, para abreviar o período expulsivo, pode descrever-se como a aplicação de pressão com as mãos sobre o fundo uterino, sincronizada com as contrações uterinas, segundo um ângulo de 30 a 40 o em direção à pelve, sendo aplicada manobra equivalente em situações de cesariana [1]. A manobra continua a ser utilizada em países com as melhores práticas obstétricas, como na Suécia, Holanda, Áustria, Estados Unidos da América, Japão [1] e Portugal [2].

A manobra de Kristeller não deve ser confundida com manobras de pressão desmedida sobre o fundo uterino, que constituem má prática e violência obstétrica, por vezes praticadas com projeção descontrolada do peso do corpo de alguém sobre o útero, na tentativa de fazer nascer o feto a todo o custo. Essas manobras, que podem levar a trauma materno-fetal grave, serão mais praticadas em países onde há menos recursos obstétricos, e onde são comuns práticas violentas, mas estão também reportadas em países com mais recursos, a ponto da Organização Mundial de Saúde a desaconselhar [3,4] e de alguns a proibirem, como acontece com a França [4,5].

Em 2017 foi publicada uma revisão sistemática da Cochrane, que incluiu 9 ensaios clínicos aleatorizados que avaliaram a manobra de Kristeller. Os autores concluíram que não há evidência suficiente sobre os benefícios e malefícios da manobra de Kristeller, ou manobra equivalente produzida com um cinto insuflável.  A utilização do cinto pode diminuir a duração do segundo período do parto e do número de partos instrumentados ou cesarianas, mas o número de casos estudados foi demasiado pequeno para se tirarem conclusões sobre segurança materna e fetal. Dada a forma disseminada como a manobra é correntemente utilizada e o seu potencial em situações em que outras formas de parto assistido possam não ser possíveis, são necessários ensaios clínicos adicionais de boa qualidade [1].

Até que surjam evidências mais definitivas sobre os benefícios ou malefícios da manobra de Kristeller, o Colégio recomenda a sua utilização apenas em casos excepcionais. Sempre que aplicável, os serviços deverão ter protocolos escritos com a descrição, indicações e contra-indicações da manobra [6].

 

Referências

  1. Hofmeyr GJ et al. Fundal pressure during the second stage of labour. Cochrane Database Syst Rev 2017;3:CD006067.
  2. Marques M et al. American Journal of Nursing Science 2017; 6: 478-485.
  3. Chauca NB. Kristeller maneuver: a review of its practice. Rev Peru Obstet Enferm 2015;11(2).
  4. WHO Regional Office for Europe. Hospital care for mothers and newborn babies: quality assessment and improvement tool. 2° ed. Copenhagen: World Health Organization; 2014.
  5. Haute Autorité de Santé. Use of fundal pressure during the second stage of labour. Formal consensus [Internet]. Haute Autorité de Santé. 2007
  6. Malvasi A et al. Kristeller maneuvers or fundal pressure and maternal/neonatal morbidity: obstetric and judicial literature review. J Matern Fetal Neonatal Med 2018;21:1-10.

 

10 de Abril de 2018