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A Ordem dos Médicos condena as declarações proferidas pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros e pela presidente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros, relativas aos médicos e aos doentes prioritários e muito prioritários adiados em consequência da greve cirúrgica dos enfermeiros. Estas declarações são falsas, atentatórias da dignidade dos médicos portugueses e, por isso, totalmente inaceitáveis.
Na fase complexa que se vive atualmente no SNS, em que os profissionais de saúde deveriam encontrar sinergias e valorizar o trabalho em equipa, respeitando-se mutuamente, estranhamos que as representantes dos enfermeiros venham publicamente justificar as consequências negativas que a greve cirúrgica traz para os doentes tentando responsabilizar os médicos pelos atos dos enfermeiros.
O SNS não está bem. Os profissionais de saúde têm sido sistematicamente desvalorizados e desrespeitados na sua missão principal de salvar vidas, tratar e cuidar dos doentes e apoiar as pessoas que necessitam de ajuda. Por isso, são legítimas as manifestações de revolta e os gritos de alerta, que pretendem despertar a sociedade portuguesa para uma situação insustentável.
Não obstante, nada justifica as intervenções da bastonária e da presidente da Associação Sindical. Tentar colocar enfermeiros e médicos em guerra aberta apenas contribui para agravar a situação complexa que se vive atualmente e descaracteriza o tecido humano que constitui a essência do SNS. Os doentes, em última análise, são aqueles que saem mais prejudicados com este comportamento.
Defender, que os enfermeiros precisam menos dos médicos, do que os médicos dos enfermeiros; ou sugerir que os médicos internos não são médicos e que tomam menos decisões clínicas do que os enfermeiros são proclamações estéreis, que apenas servem para fomentar uma divisão indesejável entre profissionais.
Não aceitamos que os dirigentes dos enfermeiros utilizem a comunicação social para insistir nesta retórica, propagando notícias falsas.Os médicos internos são médicos inscritos na Ordem dos Médicos após 12 anos de ensino obrigatório e 6 anos de mestrado integrado em medicina. No primeiro ano do internato médico (formação geral) trabalham 40 horas por semana e exercem medicina tutelada, trabalham em equipa, e auferem 1.566,42 euros brutos por mês (cerca de 1093,37 euros líquidos).
Após esta fase, em que passam a ter autonomia e continuam a ter um horário de trabalho de 40 horas por semana (contrariamente aos enfermeiros que têm um horário de 35 horas por semana), iniciam uma formação especializada com duração de 4 a 6 anos, dependendo da especialidade que estão a frequentar. Estes médicos (cerca de 10.000) constituem um dos sustentáculos do SNS, trabalhando em equipa com os médicos especialistas no serviço de urgência, nos internamentos hospitalares, nos blocos operatórios, nas consultas externas e internas, nas unidades de cuidados intensivos e intermédios, no apoio aos doentes e seus familiares, na realização de relatórios médicos, na execução de procedimentos invasivos, na investigação clínica, … E sim, realizam atos médicos nos quais se incluem decisões clínicas e prescrições de terapêuticas e meios complementares de diagnóstico e terapêutica. Auferem 1.835,42 euros brutos por mês (cerca de 1.255,42 euros líquidos).
O trabalho destes médicos é essencial. Sem eles o atual SNS entrava em falência técnica e corria o sério risco de se desintegrar. Os médicos trabalham em equipa. Uns com os outros e com outros profissionais de saúde. Cada um deles é essencial para a capacidade de resposta do serviço público às necessidades dos nossos doentes e dos nossos cidadãos. Nunca desprezamos ninguém. Todos os profissionais de saúde merecem o nosso respeito. Mas não aceitamos que tentem desvalorizar o nosso papel num SNS que ajudámos a construir e que queremos ver fortalecido.
Lamentamos as afirmações irresponsáveis, de quem pretende atingir objetivos tentando desqualificar os médicos e induzir um clima de conflitualidade, que ninguém deseja. Exigimos respeito por quem defende os doentes e luta todos os dias para manter o SNS acima da linha de água.
Lisboa, 5 de fevereiro de 2019
O Conselho Nacional da Ordem dos Médicos