O Bastonário da Ordem dos Médicos e o Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, na sequência das notícias vindas a público, e após análise da evidência científica disponível, reafirmam a sua confiança nas vacinas aprovadas e apelam à serenidade de todos, num processo em que importa não perder de vista os benefícios da imunização para a saúde dos cidadãos e para a retoma económica dos vários países.
A informação preliminar da Agência Europeia do Medicamento (EMA) indica que o número de eventos tromboembólicos, que inclui a forma mais grave de tromboembolia pulmonar, nas pessoas já vacinadas não é superior ao identificado na população em geral. Até dia 10 de março tinham sido reportados 30 fenómenos tromboembólicos em cerca de 5 milhões de pessoas vacinadas contra a Covid-19 com a vacina de Oxford (AstraZeneca) na zona económica europeia, o que corresponde a uma incidência de 0,000006%, isto é, a 0,6 casos por cada 100 mil pessoas, quando na população em geral se registam normalmente 16 a 38 casos de tromboembolismo pulmonar por 100 mil pessoas a cada ano. No total, foram administradas 17 milhões de vacinas, sendo que só nesta zona europeia foram reportados os possíveis efeitos adversos referidos.
Simultaneamente, convém recordar que, na maioria dos países, a vacinação está a começar pelos grupos dos mais idosos ou com mais comorbilidades, isto é, pelas pessoas mais doentes e mais frágeis, onde a incidência de eventos tromboembólicos já seria sempre superior à da população geral. E nos doentes internados com Covid-19 está documentado um aumento significativo de eventos tromboembólicos.
É também importante referir que não existe atualmente uma relação de causa-efeito entre a vacina de Oxford (AstraZeneca) e os já referidos fenómenos tromboembólicos. Isto é, não está provado que os fenómenos tromboembólicos relatados foram provocados pela administração da vacina. Os investigadores e peritos da EMA e da OMS estão neste momento a estudar e analisar esta eventual relação de causalidade. Entretanto, devemos manter uma atitude de confiança e tranquilidade no que diz respeito ao plano nacional de vacinação e, nomeadamente, quanto à utilização da vacina de Oxford no combate à pandemia.
O processo de imunização deve ser conduzido com clareza e transparência e sabemos que alguns dias de pausa não comprometem a ação mundial. Contudo, a Ordem dos Médicos não pode deixar de expressar a sua grande preocupação com o impacto que as notícias divulgadas a nível europeu possam ter na adesão dos cidadãos às vacinas, e apela a que sejam divulgados os dados com enquadramento e contrapondo também os riscos e benefícios já conhecidos. Por exemplo, a infeção pelo SARS-CoV-2 no nosso paístem uma taxa de letalidade de 2%, e que sobe para cerca de 14% nas pessoas acima dos 80 anos.
Numa altura em que a ciência nos trouxe respostas essenciais para o combate à pandemia, apelamos a que as decisões sejam técnicas, concertadas e apoiadas em autoridades como a EMA, a FDA e a OMS. A pandemia representa uma ameaça à escala global, que não conhece países, fronteiras ou nacionalidades, exigindo-se, por isso, um espírito global e uma posição conjunta para alcançarmos melhores resultados.
Aguardemos tranquilamente a decisão final da EMA e da OMS.
Lisboa, 17 de março de 2021