As estruturas obsoletas e reduzidas do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS), bem como o facto de não ser reconhecida totalmente a sua diferenciação, estão a comprometer a capacidade de resposta desta unidade de referência na zona sul do país. O bastonário da Ordem dos Médicos alerta para o risco de o hospital continuar a perder profissionais de excelência, o que se traduzirá em menos valências e especialidades para os utentes.
“A Ordem dos Médicos não pode deixar de manifestar a sua solidariedade para com todos os médicos do Hospital de Setúbal e de se associar ao debate que acontece hoje e que pretende alertar para os riscos que o hospital corre já no presente”, explica Miguel Guimarães.
O bastonário lembra que “a diferenciação clínica que o hospital atingiu não foi acompanhada pelas instalações, o que se traduz numa organização muito disfuncional, de que é imagem principal o serviço de urgência e todos os problemas que vêm permanentemente a público”. “Mais, em termos de financiamento o hospital está a ser pago abaixo dos serviços que proporciona, o que cria também uma asfixia em termos económicos”, acrescenta.
De salientar que o Hospital de Setúbal dá resposta a uma zona muito mais alargada do que a da região. Tem uma zona de atração direta de cerca de 250.00 habitantes (concelhos de Setúbal, de Palmela e de Sesimbra), mas é procurado por muitos doentes do Litoral do Alentejo (cerca de mais 100.000 habitantes, oriundos dos concelhos de Alcácer do Sal, de Grândola, de Santiago do Cacém, de Sines e até de Odemira). Desde 2016, altura em que passou a ser permitido aos utentes escolherem uma Unidade Hospitalar fora da sua residência e fruto da maior facilidade de acesso ao CHS por parte dos utentes do Litoral Alentejano, este centro passou a servir em média mais cerca de 20% de doentes para além da sua área de atração estritamente definida.
De acordo com um documento da iniciativa dos diretores de serviço do hospital e que será hoje apresentado em Setúbal, há vários problemas que merecem solução urgente, dos quais se destaca a necessidade de ampliar o hospital para acolher a integração da ortopedia que é suportada pelo Hospital do Outão. Mas, se essa integração ocorrer sem reorganização dos espaços já carenciados, os problemas podem vir a ser ainda maiores. A rutura permanente do serviço de urgência, os problemas nos meios complementares de diagnóstico, e a criação de condições atrativas para os atuais e novos profissionais estão também entre os principais alertas.
O documento dá exemplos concretos de várias especialidades, como a anatomia patológica que conta com apenas uma especialista, com 60 anos. Os cuidados intensivos mantêm estrutura física idêntica e a mesma capacidade de internamento (7 camas) desde a sua inauguração em 1985, estando muito aquém do rácio de camas críticas recomendado.
No caso da ginecologia/obstetrícia, o quadro médico deveria ser constituído por 23 médicos especialistas com horário de 40 horas semanais, mas, neste momento, dispõe apenas de 10 médicos, alguns deles com horário parcial. A médio prazo, prevê-se ainda o agravamento da carência de médicos, uma vez que a média etária dos médicos especialistas do Serviço é elevada, dado que oito têm entre 56 e 66 anos de idade.
Já na oncologia, em janeiro de 2019 existiam 6 oncologistas e ao longo dos últimos 18 meses foram saindo 5 dos 6 oncologistas acima referidos. No Internamento, estão atribuídas ao Serviço de Oncologia 7 camas: 6 suites e uma em enfermaria de 4 camas. A taxa de ocupação foi de 177,5%. E a urgência, à falta de recursos humanos, junta uma área interior de 1200 metros quadrados, longe dos propostos 3000, num claro subdimensionamento para fazer face a uma procura média diária de 250 utentes.
Lisboa, 19 de junho de 2020