A sessão contou com as seguintes intervenções:
· Carlos Cortes | Bastonário da Ordem dos Médicos
· Paulo Gonçalves | Presidente executivo da RD-Portugal, União das Associações das Doenças Raras de Portugal – Proatividade dos doentes: um dever?
· João Grenho | Secretário Geral da UEMS – União Europeia dos Médicos Especialistas – Defender a qualidade da formação médica é defender os direitos dos doentes?
· Tiago Villanueva | Presidente da UEMO – União Europeia dos Médicos de Família – Papel do especialista em MGF e da UEMO na defesa dos Direitos Humanos relacionados com a Saúde
A moderação ficou a cargo da médica Sofia Couto da Rocha.
Numa iniciativa que passará a ser regular, a Ordem dos Médicos está a promover um ciclo de webinares com transmissão em direto nos quais os colegas são convidados a participar. O mote deste primeiro webinar foi o Dia Europeu dos Direitos dos Doentes que se assinalou ontem.
Representantes das instituições europeias que representam os médicos e das associações de doentes debateram com o Bastonário da Ordem dos Médicos os “direitos e deveres dos doentes no contexto europeu”. Na abertura desta sessão, Carlos Cortes explicou que a preocupação com a literacia e a comunicação com a sociedade civil está espelhada em várias linhas estratégicas da sua ação, nomeadamente no desenvolvimento do novo site onde se irá promover a informação para os doentes. “Queremos construir um site com informação simples, virado para os doentes, com informação validada pelos Colégios para as questões do dia a dia que, muitas vezes, são pequenas questões mas que se estiverem explicadas podem evitar deslocações desnecessárias ao médico permitindo aceder a informação imediata”. Se “até à pandemia havia um individualismo”, a partir dessa crise de saúde pública “percebemos que a saúde dos outros afeta a nossa saúde”, mencionou, evidenciando como muito positivo o “esforço de uma União Europeia da Saúde”, contexto em que “o registo europeu de dados em saúde” se revela “fundamental para a autonomia do doente”: “o doente tem que ser o dono da informação e controlar os seus dados independentemente do país onde se encontra”. Médicos e doentes devem dar o seu contributo nesta área, defendeu o dirigente da Ordem dos Médicos, assegurando aos doentes que podem contar com a instituição.
Paulo Gonçalves começou por mencionar que a representação de todos os cidadãos, mais que das pessoas que vivem com doença, é essencial nestes encontros, frisando que os doentes têm um contributo relevante a dar e que não devem ser afastados das decisões sobre questões de saúde, referindo que esse contributo não pode ser menosprezado ou relegado para segundo plano. Recordou o início da RD-Portugal, que nasce de um grupo de trabalho que começou de maneira informal em reuniões que aconteciam na Ordem dos Médicos. Referindo-se à importância do registo em saúde, quanto ao modelo de dados do registo nacional em saúde, Paulo Gonçalves mencionou as entropias que surgiram a partir da criação dos números de processo hospitalar e como essa forma de registo tornava impossível a interoperabilidade. Estar no espaço europeu de dados em saúde era essencial e “em cinco anos conseguimos tornar-nos 1 de 11 países que tem a capacidade de interoperabilidade”, área em que considera que o papel das associações de doentes foi fundamental. Outro tema que considerou incontornável e a que fez menção foram os centros de referência em Portugal e a falta de auditoria aos mesmos.
Numa das suas intervenções, Tiago Villanueva frisou a variabilidade dos internatos de MGF como um fator que se deve combater pois “devemos caminhar para uma uniformização mas o que importa é que a formação pós-graduada seja de altíssima qualidade para que possamos ter médicos de família preparados técnica e humanamente”, disse. Referindo-se à questão da investigação e a importância de ter acesso a dados, o diretor da Acta Médica Portuguesa explicou que os países nórdicos como só têm um número para identificar os seus cidadãos, “isso permite que esses países sejam lideres na Europa de investigação epidemiológica, pois com esse número único podem cruzar todas as bases de dados, mortalidade, nascimentos. Os países nórdicos fazem investigação como ninguém na Europa com dados de altíssima qualidade”, um exemplo que gostaria de ver “expandido a Portugal onde temos dificuldade de partilha de dados até entre regiões”, lamentou.
João Grenho explicou que a uniformização da formação, que a UEMS defende, é fundamental. “Com o trabalho que desenvolvemos na defesa da qualificação médica, o que pretendemos não é o limiar mínimo de competência mas sim o limiar máximo ao qual todos possamos chegar”, para eliminar a atual assimetria no acesso a eventos científicos, por exemplo. A acreditação de eventos científicos é uma área em que a UEMS trabalha através da acreditação e da análise que fazem para perceber o impacto das melhorias de formação. “Queremos que a formação se traduza em resultados e que conduza à adoção das melhores práticas clínicas em prol dos doentes”. João Grenho lamentou que sejamos “muito resistentes à mudança” e frisou que “o mais importante de tudo é ver se o que estamos a fazer é o melhor para os nossos doentes”. O representante da UEMS reforçou “a necessidade de pressionar os decisores para darmos tempo e condições para podermos ouvir e conversar com os doentes” e compreender o que esperam do sistema de saúde.
A sessão foi transmitida em direto e teve a participação de vários interessados, médicos e não médicos, cujas questões dinamizaram o debate.