A evolução da pandemia exige que a avaliação do impacto do SARS-CoV-2 seja feita de forma mais global. Nesse sentido, a Ordem dos Médicos alertou, por diversas vezes, que a atual matriz de risco já não era uma ferramenta suficientemente completa e que era importante desenvolver uma nova solução que acompanhasse a realidade.
Com o objetivo de contribuir para a solução desse problema há muito identificado, a Ordem dos Médicos, em parceria com o Instituto Superior Técnico, apresentou, dia 14 de julho, o resultado do trabalho conjunto das duas instituições, que permitiu desenvolver o novo indicador para avaliar, a cada momento, o impacto da pandemia na saúde.
Foi precisamente consciente de que a evolução da pandemia é uma realidade dinâmica – à qual a matriz de risco não dá resposta em tempo útil -, que a Ordem dos Médicos se associou ao Instituto Superior Técnico (IST) para desenvolver e apresentar um modelo matemático baseado em indicadores que potenciem a capacidade de medir o impacto no risco para a saúde e, consequentemente, antecipar as medidas necessárias para combater eficazmente a pandemia.
Numa conferência de imprensa que teve lugar em Lisboa, no dia 14 de julho, foi apresentada “uma ferramenta que resulta de um trabalho colaborativo”, desenvolvida através da “agregação de competências”, conforme sublinhou o presidente do IST, Rogério Colaço; um trabalho de equipa que também foi enaltecido pelo especialista em Medicina Intensiva e Pneumologia que coordena o Gabinete de Crise para a COVID-19 da OM, Filipe Froes, ao referir a honra em participar numa “equipa coordenada pelo Dr. Miguel Guimarães”, e na qual a instituição teve como parceiro essencial o IST, que veio “abrir as portas do futuro para parcerias e sinergias (…) em que todos somos vencedores”, trabalho com o qual se cria uma “mais-valia para o país”, considerou.
Esta ferramenta é proposta como complemento essencial à matriz de risco que está a ser aplicada pela tutela e que não tem capacidade para dar resposta ao dinamismo da realidade. Além da incidência e taxa de transmissibilidade, o grupo de trabalho – que envolveu médicos e engenheiros – propõe a inclusão de um “pilar de gravidade” que considera outras variáveis relevantes: letalidade, internamentos em enfermaria e internamentos em UCI. É da aplicação do conjunto dessas cinco dimensões que se evolui numa escala para a qual, a cada momento, é possível determinar quais as medidas adequadas e necessárias para “achatar a curva”.
O bastonário da Ordem dos Médicos e o Gabinete de Crise têm manifestado por diversas vezes a sua preocupação com as consequências negativas de estarmos constantemente atrasados nas medidas de combate à pandemia, nomeadamente por usarmos uma matriz baseada na incidência a 14 dias, claramente desfasada de um vírus que “não espera sete dias por uma decisão”, conforme evidenciou o matemático especialista em sistemas dinâmicos, Henrique M. Oliveira, outro dos elementos desta equipa. Já o bastonário enfatizou a importância da vacinação cujo “efeito poderoso (…) tem um impacto muito grande sobre a letalidade e os internamentos”, o que nos permite “parar de pensar no binómio confinar/desconfinar”, substituindo-o por um conjunto de medidas mais adequadas à conjuntura real e nas quais se inclui, por exemplo, o recurso ao certificado digital COVID, sempre em cumulo com medidas como a indispensável higiene das mãos e outras formas de controlar a pandemia, numa gradação que só se ultrapassar o nível crítico é que deverá voltar a significar um confinamento.
A ferramenta agora apresentada potencia a transparência e a flexibilidade pois democratiza o conhecimento e, com isso, ajuda não só na coerência das medidas de contenção aplicadas mas também na adesão a essas mesmas medidas. Trata-se de “mais do que uma matriz: é um indicador global que explica devidamente porque temos que ter determinadas intervenções” (e não outras) à medida que o indicador evolui, explicou Miguel Guimarães aos jornalistas, frisando a importância de termos uma análise “diária real que nos permita acompanhar a pandemia e perceber o que temos que fazer para a conter” a cada momento, em vez de estarmos a aplicar medidas sistematicamente menos eficazes por estarem desfasadas da realidade.