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Obesidade Infantil: um desafio de saúde pública no século XXI

Autora: Carla Carneiro, Médica Interna de Formação Específica em Medicina Geral e Familiar, USF Anta, ACeS Espinho/Gaia, Espinho, Portugal

 

A obesidade infantil é considerada pela OMS um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI. As crianças com excesso de peso ou obesidade têm maior probabilidade de desenvolver diabetes ou doenças cardiovasculares, numa idade jovem. A prevalência de excesso de peso nas crianças portuguesas tem vindo a diminuir nos últimos anos, no entanto há ainda muito trabalho a fazer nesta área.

 

 

Não é raro nas consultas de saúde infantil detetarmos crianças com excesso de peso ou obesidade. Quando avaliamos, podemos facilmente perceber as razões que o motivaram: crianças cada vez mais sedentárias, que passam muitas horas sentadas a ver televisão ou a jogar no computador e com hábitos alimentares muito pouco saudáveis. Cereais açucarados, refrigerantes, bolachas com chocolate, entre outros, fazem parte da alimentação diária das nossas crianças. Muitas recusam-se a comer peixe, ou sopa, ou fruta. Frequentemente, os pais vêm-se assoberbados de trabalho, cumprindo mais horas do que deveriam e acabam por não ter capacidade de conciliar o trabalho com as atividades extracurriculares dos filhos, ou sem capacidade de impor regras quanto à alimentação. Na verdade, como sabemos, os pais são o modelo, e se eles praticam uma alimentação pouco saudável, essa é a alimentação de toda a família. Se as crianças têm sempre à disposição alimentos açucarados, vão sempre escolhê-los em detrimento de uma opção mais saudável.

Para mim é claro, este não é um problema das crianças, mas sim dos seus pais, da família e de uma sociedade cada vez mais doente.

A obesidade infantil atinge uma dimensão tão grande que a Organização Mundial de Saúde o considera como um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI.1 Como sabemos, as crianças com excesso de peso ou obesidade têm maior probabilidade de permanecer obesas na idade adulta e de desenvolver doenças não transmissíveis, como diabetes ou doenças cardiovasculares, numa idade jovem.1

De acordo com os critérios da OMS, a prevalência de excesso de peso infantil (pré-obesidade + obesidade) em Portugal foi, desde o início do estudo COSI (Childhood Obesity Surveillance Initiative), uma das mais elevadas ao nível de países como a Grécia, Itália, Espanha e Malta.2 No entanto, apesar deste cenário negro, Portugal também tem boas notícias: a prevalência de excesso de peso nas crianças portuguesas tem vindo a diminuir consistentemente nos últimos anos (-7,2% de 2008 a 2016) apresentando-se por isso em melhor posicionamento a par da média europeia global.

O excesso de peso e a obesidade, bem como as doenças a si relacionadas, são preveníveis. Assim, a prevenção da obesidade na infância deve ser prioritária. É fundamental continuar este trabalho e mantermo-nos alerta, sinalizando mesmo os casos de ligeiro aumento de peso, para que possam mais facilmente ser corrigidos. Enquanto médica de família, assumo esta como uma batalha que também é minha, não fosse a Medicina Geral e Familiar, por excelência, a especialidade da prevenção.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] – CHILDHOOD OVERWEIGHT AND OBESITY. Disponível em: <https://www.who.int/dietphysicalactivity/childhood/en/>. Acesso em 8 de setembro de 2020.

[2] – CHILDHOOD OBESITY SURVEILLANCE INITIATIVE – COSI PORTUGAL 2019. FACTSHEET 2019. Disponível em: <http://www.ceidss.com/wp-content/uploads/2020/03/COSI-2019_-FactSheet.pdf>. Acesso em 8 de setembro de 2020.