“O papel do Médico de Saúde Pública no século XXI” foi o mote da 1ª edição do Congresso Nacional dos Médicos de Saúde Pública que decorreu nos dias 9 e 10 de dezembro, no Centro de Congressos de Aveiro. O bastonário da Ordem dos Médicos participou na sessão de encerramento onde parabenizou a organização do evento e todos os médicos de Saúde Pública do país. O excesso de tarefas administrativas e o combate à pseudociência, “que tem um impacto brutal em termos de saúde pública”, foram dois temas centrais do discurso de Miguel Guimarães que lamentou ainda a falta de investimento do Governo: “Portugal é um dos quatro países da região europeia em que a percentagem da despesa em saúde pública se reduziu entre 2000 e 2017″ (…) são menos de 0,2% do PIB, o que é muito pouco”.
A iniciativa que pretende ser um espaço de partilha, debate e potenciação do conhecimento e da organização do trabalho e papel do médico de Saúde Pública, preparando estes profissionais para os desafios que o presente e o futuro trazem, juntou durante os dois dias de trabalhos centenas de médicos e interessados. Na sessão de encerramento, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, referiu que “há um suplemento de autoridade de saúde que é devido e não está a ser pago”. “O suplemento de autoridade de saúde não é o suplemento de disponibilidade permanente pelo que todos nós somos credores deste suplemento”, acrescentou.
“Entre os desafios mais importantes, seguramente o que mais nos impede de fazer o nosso trabalho é a carga burocrática que temos e que praticamente não tem repercussões do ponto de vista positivo na saúde das populações”, disse, referindo-se especialmente à realização das juntas médicas, tema que já tinha abordado no dia anterior, na sua intervenção de abertura.
Ricardo Mexia mostrou-se satisfeito com a afluência e o sucesso desta primeira edição. “Isto é apenas a primeira pedra daquilo que será a construção de um futuro melhor para a saúde pública”. “Ajudem-nos a construir um futuro com ambição para a saúde pública”, apelou.
Miguel Guimarães deixou palavras de apreço aos médicos especialistas em saúde pública, dizendo que “são dos médicos mais importantes do país” e “aqueles que podem, de uma forma mais direta, influenciar positivamente os indicadores globais” da saúde em Portugal. Infelizmente, acrescentou, há desafios que se colocam, como é o caso da excessiva burocratização de processo e também do “avanço perigoso” da pseudociência. Para ajudar a encontrar respostas aos desafios, o bastonário anunciou que, em conjunto com a ANSMP, a Ordem dos Médicos irá promover um fórum de saúde pública ainda este mês.
Aproveitando a presença de António Sales, secretário de Estado da Saúde, o bastonário da Ordem dos Médicos salientou a necessidade do Governo investir seriamente na saúde pública. “O investimento em Portugal é inferir a 0,2%” do PIB, um valor muito reduzido que não serve os propósitos, nem protege a população.
Foi António Sales que encerrou a sessão. O governante enalteceu “a dedicação de todos os profissionais de saúde”, em especial e, dentro deste contexto, dos médicos de saúde pública. Depois de apontar alguns indicadores que considera positivos, não deixou de afirmar que “existem desafios que continuam a merecer a nossa melhor atenção”, como por exemplo a necessidade de maior aposta nos cuidados de saúde primários, criar métodos de simplificação de processos administrativos e apostar mais nos recursos humanos, tão necessários para um SNS forte e robusto.