Foram quase 450 mil os rastreios aos cancros da mama, do colo do útero e do cólon e reto que ficaram por realizar só durante o primeiro ano de pandemia. Nos exames complementares de diagnóstico e terapêutica os números atingem os 29 milhões de exames a menos. Os dados analisados comparam os períodos março 2020/fevereiro 2021 com março 2019/fevereiro 2020.
No programa de rastreios oncológicos nos cuidados de saúde primários, registaram-se menos 21% de mulheres com registo de mamografia nos últimos dois anos (menos 169 mil), menos 12% de mulheres com colpocitologia atualizada (menos 140 mil) e menos 7% de utentes inscritos com rastreio do cólon e reto efetuado (menos 125 mil). Os números são, nas palavras do bastonário da Ordem dos Médicos (OM), “muito preocupantes”.
Estes foram algumas das conclusões da análise feita pela consultora MOAI para o Movimento Saúde em Dia, uma iniciativa da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares que conta com o apoio da Roche. Nos resultados apresentados no dia 7 de julho, no auditório da OM, em Lisboa, ficou ainda conhecido que existiu uma quebra de 40% da procura das urgências hospitalares e menos 25% de cirurgias realizadas. Nas consultas médicas presenciais nos centros de saúde a redução foi de 46%, o que significa menos 9 milhões de consultas no primeiro ano de pandemia comparado com o período homólogo anterior.
Miguel Guimarães alerta que para resolver esta questão complexa, não se trata apenas de “resolver o problema das listas de espera, mas tentar identificar todos os doentes que ficaram para trás”. O bastonário defendeu durante entrevistas aos jornalistas à margem da sessão que é preciso criar “um programa excecional de recuperação” dos doentes, o que implica um investimento e “uma grande mobilização” das pessoas, do Serviço Nacional de Saúde e dos setores social e privado. Um programa que tem de ser “fácil de executar”, monitorizado “passo a passo” e envolver todos os parceiros.
Por outro lado e já na sessão de encerramento da sessão pública, Miguel Guimarães sublinhou que “é urgente” libertar os médicos de família para as suas tarefas habituais e contratar médicos que estão fora do sistema e outros profissionais para o plano de vacinação e para as tarefas relacionadas com a COVID-19, para pôr “a máquina toda a funcionar”.
Nos cuidados de saúde primários, foram realizadas menos 9.362.365 consultas médicas presenciais (46%) e menos 83.630 consultas ao domicílio (43%) no primeiro ano de pandemia, comparado com o período homólogo anterior.
Relativamente, aos hospitais do SNS, o estudo aponta uma redução de 4,5 milhões de contactos no primeiro ano de pandemia, entre consultas, urgências, cirurgias e internamentos. A procura das urgências hospitalares caiu quase 40%, o equivalente a menos 2,5 milhões de episódios, um número que o bastonário considerou “impressionante”.
Os casos considerados mais graves ou urgentes, com pulseira vermelha, reduziram-se 22%, os episódios com pulseira laranja caíram 31% e os com pulseira amarela 40%. Realizaram-se também menos 176.057 cirurgias (25%), das quais 162.464 (26%) eram programadas e 13.593 urgentes (13%).
Miguel Guimarães assinalou ainda a redução “muito significativa” na referenciação das consultas aos hospitais, com uma redução de 20% nas primeiras consultas hospitalares (menos cerca de 700 mil).
O fenómeno explica o motivo pelo qual as listas de espera também não engrossaram: “o número de doentes quando comparado com o mês homólogo de 2019 pode não ser muito diferente, até pode ser menor, porque há muitos doentes que não chegaram a entrar no sistema e esse é o grande problema”. “São milhares ou milhões de doentes, provavelmente, que acabaram por não entrar no sistema e isso tem um impacto muitíssimo grande”, alertou o bastonário.