Ao terceiro dia de trabalhos no 23.º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, a sessão sobre vacinação contra a COVID-19 ficou marcada por duas grandes surpresas. O bastonário, Miguel Guimarães, recebeu um reconhecimento público, por via de vários colegas que se organizaram para enaltecer o seu papel decisivo no processo de vacinação dos médicos que a Ordem coordenou. Também o coordenador da task force nacional para a vacinação contra a COVID-19, Henrique Gouveia e Melo, foi surpreendido, desta feita pela própria Ordem dos Médicos (OM), através do bastonário e de um presente muito especial entregue por um membro do Gabinete de Crise da instituição que representa todos os médicos.
Esta mesa, subjugada ao mote “vacinação COVID-19 e o papel da Ordem dos Médicos” era um dos momentos mais aguardados do congresso. Tudo se iniciou como programado, com o coordenador do Gabinete de Crise para a COVID-19 da OM, Filipe Froes, a presentear o auditório com várias perspetivas científicas sobre a eficácia das vacinas disponíveis – todas muito similares e eficientes em termos de prevenção de doença grave ou morte – e enquadrando o papel do bastonário e do gabinete que coordena: “muito interventivo” em sugerir as medidas mais adequadas em cada momento.
“As vacinas têm salvo milhares de vidas, colegas nossos, população e têm permitido aquilo que nós estamos a ver: uma retoma progressiva da atividade social e económica”, destacou. Ainda sobre as vacinas, o que não pode acontecer, alertou, “é comparar laranjas com maçãs”. A figura de estilo foi utilizada para ilustrar o facto de que “se nós olharmos e fragmentarmos a informação sobre a eficácia das vacinas, e isto já foi feito noutros países, vemos que temos estudos diferentes, com metodologias diferentes, em alturas diferentes, em países diferentes, com outcomes diferentes e os resultados não são comparáveis”. No entanto, há um elo comum entre todas as vacinas disponíveis: a redução das hospitalizações e das mortes.
Em conclusão, Filipe Froes recordou o mote “no one is safe, until everyne is safe”, mas sublinhou que a base deste slogan tão ouvido ultimamente não é apenas o altruísmo, é também “uma questão de inteligência na sobrevivência de todos nós”. Isto porque enquanto os países mais pobres não conseguirem vacinar as suas populações, os países ditos mais ricos continuaram vulneráveis a “incubadores” de vírus provenientes de outros locais.
Em representação do departamento de qualidade da DGS, esteve presente o seu diretor, Válter Fonseca. A exposição focou-se nos caminhos que nos esperam depois da vacinação e o orador partilhou algumas das estratégias que permitam regressar à normalidade da vida social e económica no menor período de tempo possível. Válter Fonseca realçou que os dados mostram que enquanto a taxa de vacinação aumenta. os casos de internamento diminuem. “São dados do mundo real que mostram que estamos a defender as pessoas e os serviços de saúde.
A palavra passou para Rubina Correia, também membro do Gabinete de Crise para a COVID-19 da Ordem dos Médicos e elemento do Conselho Nacional da instituição. A médica especialista em Medicina Geral e Familiar caracterizou o “abraço” que a Ordem assumiu ao vacinar cerca de 4500 médicos que, de outra forma, só seriam inoculados muito mais tarde.
Rubina Correia explicou o processo logístico, o empenho do staff e do bastonário, que mostrou uma “determinação indescritível” e um sentido de “humanista” digno de nota. Esta foi a ponte para uma homenagem surpresa dirigida a Miguel Guimarães, com um lançamento de um vídeo que fez o resumo da participação do bastonário no plano de vacinação dos médicos através da Ordem e que contou com vários testemunhos de médicos que lhe quiseram prestar um agradecimento público.
Em momento diferente, foi ainda entregue ao bastonário um retrato ilustrado alusivo à vacinação (oferta de pessoas que trabalham de forma próxima com Miguel Guimarães) e uma carta aberta, de iniciativa de António Vaz Carneiro, já com cerca de 80 subscritores iniciais, de agradecimento público.
Henrique Gouveia e Melo dirigiu-se de seguida ao púlpito para a sua intervenção centrada na partilha do que aprendeu com a sua missão até agora, enquanto coordenador da task force nacional para a vacinação contra a COVID-19. O vice-almirante salientou que se tem conseguido fazer “uma coisa muito complexa”, referindo-se ao plano de vacinação que, em agosto, já terá alcançado 70% da população portuguesa. “Muito complexa”, explicou, “porque era massiva e urgente”. “Cerca de 16 milhões de inoculações em seis ou sete meses não é fácil”, admitiu perante a audiência do congresso.
“Ninguém está nem sobrevive sozinho”, destacou Gouveia e Melo. Isso é condição fundamental para perceber a importância de ajudar os países mais pobres a vacinarem-se. Um aspeto que afirmou tocar-lhe enquanto militar e Ser Humano. Se as questões humanistas não fossem suficientes, relembrou também que o efeito de não se vacinar toda a população mundial pode vir a atingir, no futuro, os países ricos”. “Enquanto houver um sítio no mundo onde o processo não esteja completo”, esse local “será incubadora de vírus mais violentos que nos poderão vir atacar”, sublinhou.
Outro dos pontos importantes do seu discurso dirigiu-se aos “mais frágeis”, nomeadamente os “acamados”. “Sempre que o sistema vacina um acamado, a eficácia em termos de tempo do profissional que faz essa operação é muito baixa”. “No entanto, a qualidade é muito elevada”, assim como o benefício. “Temos de ter um processo mais fino dedicado às pessoas mais frágeis”, disse, mostrando sensibilidade em distinguir as várias dimensões onde é preciso chegar.
No final da intervenção, surgiu a surpresa. Henrique Gouveia e Melo levou para casa uma réplica de um submarino onde passou cerca de 20 anos da sua carreira militar. A oferta foi feita manualmente, peça a peça, por Vítor Almeida, também ele membro do Gabinete de Crise.
Os homenageados do dia mostraram-se, ambos, emocionados com os gestos. O vice-almirante, por não considerar ter “o dom da oratória”, ficou-se por um sentido “obrigado”, garantindo que vai colocar o submarino exposto na sua sala. Já o bastonário. também tocado e sensibilizado, preferiu dar o palco a Henrique Gouveia e Melo, enaltecendo-o como um “verdadeiro líder” que tem feito um trabalho “extraordinário”.