Um grupo de médicos de várias especialidades esteve no último fim-de-semana nos concelhos de Miranda do Douro e Vimioso para prestar cuidados de saúde gratuitos a mais de 1000 doentes com dificuldades de acesso a cuidados de saúde diferenciados. O projeto, idealizado e liderado pelo dermatologista António Massa, nasceu em 1992 e tem acontecido todos os anos de forma ininterrupta.
Neste fim-de-semana, o dermatologista reuniu um grupo de 21 médicos de várias especialidades, como dermatologia, urologia, cirurgia, ortopedia, ginecologia, otorrinolaringologia, pneumologia, medicina geral e familiar e saúde comunitária para efeitos de registo epidemiológico. Do grupo faz parte o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
“Com este projeto pretendemos sobretudo ajudar as pessoas que estão longe dos grandes centros e que, quer por dificuldades económicas ou de locomoção, têm dificuldade de aceder a cuidados de saúde”, explica António Massa, que adianta que vão a alguns lares, mas também contam com a abertura dos centros de saúde destas zonas para atender utentes que se inscrevem e a quem fazem consultas, exames e pequenas cirurgias. As autarquias apoiam no alojamento dos médicos. “Acabamos por não ter muito tempo para chegarmos a tanta gente, mas recebem os melhores cuidados possíveis e muito carinho”, reforça.
“No fundo é um fim-de-semana em que damos o nosso tempo e saber a quem mais precisa e em que recuperamos o espírito do João Semana, que levou muitos de nós a abraçarmos a arte da medicina e de ajudar quem mais precisa nos locais em que muitos serviços já desapareceram”, complementa o bastonário da Ordem dos Médicos.
40% dos médicos de família de Bragança podem reformar-se nos próximos 3 anos, alertou a Ordem
Em balanço da visita a este território, enquadrada na iniciativa “Médicos em Missão”, o bastonário da Ordem dos Médicos alertou – em entrevista à Lusa – que, nos próximos três anos, cerca de 40% dos médicos de família que prestam cuidados de saúde no distrito de Bragança atingem a idade da reforma e o Governo terá de tomar medidas. “O interior está numa situação muito difícil e, no distrito, de Bragança a situação está pior. Há uma percentagem muito elevada de médicos, que ronda os 40%, que está a atingir a idade da reforma nos próximos três anos”, disse Miguel Guimarães.
“Somos um país pequeno, mas com desigualdades territoriais e sociais grandes, e temos que as atenuar rapidamente. Neste sentido, há diversas medidas que o Governo pode tomar, sendo importante tomar as que achar mais necessárias. Porém, não pode esperar que exista um problema grave, isto é, que alguns concelhos no distrito de Bragança deixem de ter médico de família e fiquem mais isolados”, vincou.
Miguel Guimarães referiu ainda que o Governo “terá que tentar recrutar médicos mais jovens para a região”. “É preciso criar mecanismos para fixar os jovens médicos, com projetos fiéis. É natural que uma pessoa que trabalhe aqui tenha um vencimento maior do que numa grande cidade, onde há mais oportunidades”, observou. Para o bastonário, para desenvolver uma área mais carenciada é necessária “uma política de incentivos da sociedade, tanto para os médicos, para os professores como para ou outras profissões”.