O número crescente de utentes sem médico de família atribuído tem vindo a ser um tema recorrente nos últimos meses, com implicações a nível nacional. Mais de 1,1 milhões de portugueses não tinham médico de família no final de 2021. A situação mais grave verifica-se na região de Lisboa e Vale do Tejo, representando 68,8% do total deste universo.
Consciente disso, o presidente da Câmara de Lisboa garantiu, na passada terça-feira, que irá apresentar um plano de saúde gratuito para maiores de 65 anos, em Lisboa.
“Quando olho para os lisboetas e vejo que os maiores de 65 anos, hoje, muitos deles não têm médico de família, eu tenho que arranjar uma solução”, disse Carlos Moedas. O orçamento municipal de Lisboa para este ano incluiu o plano de saúde gratuito para os mais carenciados com mais de 65 anos, mas ainda aguarda implementação.
Sobre estas declarações, o bastonário da Ordem dos Médicos acredita que há profissionais de saúde suficientes para cumprir a promessa do presidente da Câmara de Lisboa. Miguel Guimarães considerou a “ideia interessante”, afirmando que há condições para fazê-lo e que a medida até pode “servir para acordar o próprio Ministério da Saúde”.
Em declarações à Renascença, o bastonário garantiu que “Carlos Moedas está a sugerir isso porque sabe que pode fazê-lo”, dado que existem, “neste momento, cerca de 1.600 especialistas em Medicina Geral e Familiar fora do Serviço Nacional de Saúde”. No entanto, Miguel Guimarães estima que as “pessoas com mais de 65 anos que não têm médico de família podem não ser tantas quanto neste momento possa parecer”.
“Em Lisboa, imaginemos que, porventura, são 30 mil idosos, se calhar a contratação de 30 médicos de família pode ser suficiente”, argumentou, lembrando que as pessoas com mais de 65 anos “são aquelas que têm mais doença crónica e que têm necessidade de serem observadas regularmente”.
O representante dos médicos reconhece ainda “que as autarquias de Lisboa e do Porto têm um maior poder económico do que outras autarquias para avançar com medidas como esta” e apelou ao Ministério da Saúde que “comece a concretizar objetivos” de âmbito transversal, em todo o território nacional.
“É preciso investir. Esse investimento não tem sido feito, nomeadamente no capital humano. (…) A base do Serviço Nacional de Saúde são as pessoas, a partir daí é que vem tudo o resto”, remata o bastonário.
Enquanto falava na Comissão da Saúde, pela primeira vez enquanto ministro da Saúde, Manuel Pizarro anunciou a abertura de um concurso com 200 vagas de internato para médicos de família em Lisboa e Vale do Tejo. Contudo, afirmou que a prioridade é rever a lista de utentes de inscritos, argumentando que este é “um problema que precisa de uma correção”, mas que tem as suas dificuldades.