O diretor clínico, os diretores de serviço e os chefes de equipa do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho confirmaram na tarde desta quarta-feira, no Porto, a intenção de demissão já antecipada em março último. No total, 52 médicos com funções de direção – dos 56 que compõem a estrutura diretiva – cansaram-se de esperar pelas condições prometidas e, em defesa da segurança dos doentes, apresentaram demissão. “A Ordem dos Médicos não tem qualquer dúvida em apoiar estes médicos que estão a defender os seus doentes”, afirmou o bastonário.
No total, são 52 médicos com funções de direção do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) que ontem apresentaram demissão, em conferência de imprensa, realizada na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (OM). Chegaram ao limite depois de meses de espera por condições condignas para a assistência aos doentes e, agora, em protesto, concretizam a ameaça já anunciada em março, aquando da visita do bastonário da OM ao CHVNG/E.
“A situação de Gaia é crítica e estes médicos estão a reclamar melhores condições de trabalho para defenderem os seus doentes. A Ordem dos Médicos não tem qualquer dúvida em apoiar estes médicos”, frisou Miguel Guimarães, salientando ainda a disparidade de número de camas que o Hospital de Gaia tem face à média nacional. “Portugal tem uma média de 3,4 camas por mil habitantes, abaixo da média dos países da OCDE, que é de 4,7/1000 habitantes e Gaia ainda está abaixo, com apenas 1,7 camas por mil habitantes”.
José Pedro Moreira da Silva, o diretor clínico demissionário do centro hospitalar, elencou as causas para a demissão em bloco, sublinhando as “condições indignas de assistência no trabalho e falta de soluções da tutela” e exemplificando várias falhas e deficiências com que os médicos do hospital lidam diariamente e que condicionam o melhor tratamento dos seus doentes. “Com esta estrutura não podemos dar continuidade a cuidados dignos”, frisou o diretor clínico demissionário.
Já em março, aquando da visita do bastonário da OM ao CHVNG/E, vários diretores de serviço tinham antecipado a intenção de apresentar demissão, em protesto contra as condições de trabalho que afetam a qualidade dos cuidados prestados. Depois de meses de espera e considerando que “as promessas feitas por quem tem responsabilidade política na matéria”, como lembrou Migue Guimarães, dão agora um grito de alerta e esperam ver finalmente uma mudança concreta no sentido de suprirem as lacunas identificadas, que pode passar também pela alteração da administração “que não tem sido competente a garantir condições de trabalho”.
Na conferência de imprensa, também Jorge Maciel, Pedro Braga, Pedro Portugal também partilharam vários exemplos dos problemas com que lidam diariamente nos serviços que dirigem. No CHVNG/E está já a circular uma carta de apoio entre os médicos, em solidariedade com a tomada de posição dos clínicos demissionários.