A Medicina Interna tem vindo a assumir uma função preponderante na organização hospitalar nacional e viu crescer a sua área de influência, tornando-se a especialidade médica do Hospital. No entanto, no concurso de acesso ao Internato Médico de 2023, foi a especialidade com mais vagas por preencher, mais de metade das vagas disponíveis. A centralização dos cuidados de saúde nas urgências hospitalares está a colocar uma pressão excessiva sobre os médicos e a afastar muitos profissionais do SNS. Quais as soluções para dignificar a especialidade de Medicina Interna? Como atrair jovens médicos para uma especialidade tão fulcral no sistema de saúde?
Na abertura da sessão, o Bastonário Carlos Cortes enquadrou a importância da Medicina Interna como “um pilar de todo o sistema de saúde”, alertando para a degradação que se tem sentido nos hospitais e o “impacto gravoso sobre o sistema de saúde precisamente pela degradação desta especialidade”. Enquadrando esta preocupação que a Ordem dos Médicos tem, Carlos Cortes explicou que os intervenientes são membros do recém-criado Grupo de Trabalho para a Valorização da Medicina Interna para que se possa contribuir com propostas concretas para melhorar o atual estado da especialidade.
O Presidente do Colégio da Especialidade, Faustino Ferreira, apelou, numa das suas intervenções a que “as administrações não façam alterações na forma de organizar os serviços sem nenhum critério, sem nenhuma validação e sem estudos piloto”, lamentando que também não sejam feitas avaliações, sendo este um dos problemas que causa mau estar aos internistas. Cara combater a escassez de internistas, defende que se criem “muito melhores condições de trabalho, incluindo mais apoio de secretariado e de enfermagem para que não despendamos tempo com contatos e trabalho que não deveria ser feito pelos médicos”.
Já Manuel Teixeira Veríssimo, presidente da Secção Regional do Centro e coordenador do grupo de trabalho pela valorização da Medicina Interna, esta especialidade “é a reserva funcional do sistema como sempre foi e continuará a ser nos melhores e nos piores momentos. E, este é um dos piores”, lamentou. Para que o sistema funcione melhor “é fundamental a reorganização dos sistemas”, e lideranças mais eficazes. “Quem gere um serviço ou um hospital tem que ter a noção que não chega gerir o presente; é preciso antecipar o futuro. O que aconteceu à Medicina Interna é que ninguém antecipou” e o resultado é a atual crise de atratividade e falta de condições para o exercício da especialidade.
Lèlita Santos, ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, também apresentou a sua visão para melhorar o prognóstico do futuro da especialidade: “é fundamental termos incentivos, seja tempo para formação, seja para investigação ou condições para ser orientador de formação”, explicou lembrando que “há um tempo consumido com os nossos internos” que não é devidamente valorizado nem acautelado em termos de horário. “Os incentivos são necessários e importantes e têm que ser bem estudados e aplicados rapidamente senão não teremos internos que queiram seguir esta especialidade”, afirmou pragmaticamente, frisando que uma das principais razões para que a Medicina Interna não seja atrativa é a urgência. “É preciso diminuir o horário obrigatório na urgência de 18 para 12h por semana para que não sejam consumidas tantas horas na urgência e para que os médicos não fiquem completamente exaustos”