A Ordem dos Médicos e a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares apresentaram, dia 11 de dezembro, em Lisboa, a proposta para uma agenda estratégica para que Portugal adote medidas para implementar a medicina de precisão e avançar com projetos piloto no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Miguel Guimarães explicou que a Ordem dos Médicos se associou a esta iniciativa da APAH – Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares “porque a medicina dita de precisão é uma matéria de extrema importância que não podemos continuar a ignorar”. Como realidade incontornável, o bastonário considera que temos que refletir já para que exista de facto uma estratégia. Embora identifique que ainda existem “muitas dificuldades de acesso”, considera que “faz sentido falar da medicina de previsão”, pois representará duas dimensões de qualidade, sendo o acesso o grande indicador da qualidade de um sistema de saúde. “A par do acesso, temos simultaneamente que melhorar os nossos resultados e, para isso, este é um dos caminhos a seguir: a medicina de precisão que tem vantagens para os nossos doentes e para o próprio sistema de saúde”, fazendo a apologia de um uso adequado em que um meio de diagnóstico ou um tratamento sejam usados em doentes em que esses recursos tenham impacto positivo e não em doentes que não beneficiem desses tratamentos.
Alexandre Lourenço, presidente da APAH agradeceu à OM e em especial ao bastonário por terem apoiado a iniciativa relembrando que “o papel da sociedade civil é fazer propostas”. “ É isso que fazemos aqui hoje: queremos apresentar uma visão, uma agenda estratégica” para a medicina de precisão, área que permite “definir estratégias de diagnóstico de acordo com o perfil do doente”, frisou.
António Vaz Carneiro, em representação do Centro de Investigação de Medicina Baseados na Evidência, começou por esclarecer que “o doente é fundamental” e que “no futuro esse mesmo doente deixa de ser passivo” e passa a ser um parceiro ativo nas escolhas relativas ao seu percurso em saúde, baseadas no conhecimento e informação que os médicos lhe podem transmitir com recurso à medicina de precisão, que se baseia em métodos e diagnósticos para tratamentos focalizados “nas características individuais dos doentes a partir de informação genética, biomarcadores, etc.”
As especificações técnicas de elaboração desta agenda estratégica foram explicadas por Sara Geraldes, enquadrando a medicina de precisão como uma solução estratégica para cuidados de saúde mais adequados ao perfil de cada pessoa e a uma melhor qualidade de vida. A medicina de precisão foi apresentada como um caminho para “sabermos mais sobre cada um de nós e ao mesmo tempo do grupo”, contribuindo para “comunidades mais saudáveis”, com uma “mudança de foco para o cuidar do indivíduo e não apenas da doença”. Mas os desafios não foram esquecidos: é preciso criar garantias de acesso equitativo dos cidadãos a cuidados personalizados, guiar a prática clinica através de Real World Data, etc. “Porque cada caso é um caso” e cada pessoa é um ser único e irrepetível.
A segunda parte da sessão foi focada nos compromissos para a implementação da agenda estratégica apresentada nos painéis anteriores. Para isso estiveram presentes representantes da Direção-Geral da Saúde (DGS), INFARMED, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), IPO de Lisboa e Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).
Válter Fonseca, da DGS, declarou que existe um compromisso da sua organização para este desafio. “Conformidade não é qualidade e promover exclusivamente a conformidade é ignorar a criatividade” e as especifidades de cada doente, considerou. No entanto, esclareceu logo depois, “não se trata de excluir a conformidade, mas sim ir além dela”.
Astrid Vicente, do INSA, foi bastante assertiva: “é altura de dizer em alto e bom som que Portugal precisa de participar” numa solução integrada tendo por base a medicina de precisão. Para isso, sublinhou, “é preciso mais do que boa vontade, é necessário investimento”.
Do INFARMED, Margarida Menezes Ferreira, garantiu que podem contar com a sua entidade na agilização da fase de inovação. Deixou, por fim, a sugestão de iniciar uma base de dados genética em Portugal.
O presidente do IPO, João Oliveira, mostrou-se mais cauteloso na abordagem, considerando que, apesar do mundo de hoje ter a capacidade nunca antes vista de armazenar e tratar conhecimento, falta ainda usar efetivamente a informação recolhida para melhorar a vida das pessoas e de a acarretar para a prática clínica. O dirigente gostava de ver um “investimento máximo em medicina de precisão”, mas que fosse “um investimento para prestar um serviço às pessoas, não para o produto”.
A terminar o debate, Ricardo Mestre da ACSS relembrou que o “investimento é um tema sempre transversal a todas as matérias de saúde” e defende uma política de incentivos ao desempenho e inovação.
A sessão de encerramento contou com a presença de António Sales, secretário de Estado da Saúde, que saudou a Ordem dos Médicos, a APAH e a EY pela iniciativa. “Para um governante não há satisfação maior do que ver a sociedade civil tomar as rédeas de situações como esta”, afirmou.