A Ordem dos Médicos, através da Direção da Competência em Gestão dos Serviços de Saúde, homenageou, pela oitava vez, um médico que ao longo do seu percurso profissional se distinguiu na área da gestão nos serviços de saúde, em Portugal. Nesta edição, que decorreu no dia 23 de outubro, o galardão foi entregue a Luís Portela, presidente da Fundação Bial. A cerimónia teve lugar no salão nobre da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.
O bastonário da Ordem dos Médicos fez um discurso muito pessoal sobre o homenageado, destacando tanto as suas capacidades técnicas como humanas. “Com a serenidade e resiliência que o caraterizam, Luís Portela conseguiu encontrar um novo propósito no desafio e implementar os valores do ser médico na forma como conduziu a gestão da empresa da família. A gestão de Luís Portela foi corajosa e arrojada, mas sem nunca perder de vista que o que realmente importa são as pessoas e que é por elas, para elas e com elas que devemos trabalhar. A tranquilidade e serenidade com que enfrenta os momentos difíceis são o exemplo de que uma gestão forte e determinada não é incompatível com a ética e o humanismo”, destacou Miguel Guimarães.
Depois, o bastonário elogiou a forma como o premiado soube entrar na vida da empresa, mas também sair. “Se a entrada de Luís Portela foi de certa forma imprevista, a sua saída, pelo contrário, foi meticulosamente antecipada e preparada. Este não é um mero pormenor. É muito raro assistirmos, sobretudo em Portugal, a saídas e passagens de testemunho feitos com rigor e no tempo certo. Saber sair numa altura em que ainda temos tanto para dar é um ato único e um exemplo a seguir”, reforçou.
Antes, o presidente da Competência em Gestão dos Serviços de Saúde da Ordem dos Médicos, Duarte Nuno Vieira, tinha já afirmado que Luís Portela representa um “exemplo e inspiração para toda a classe e até para a comunidade em geral”. Duarte Nuno Vieira lembrou o percurso de Luís Portela na gestão industrial farmacêutica, uma área que este ano esteve especialmente em destaque com a pandemia. Posteriormente, salientou que o prémio da Ordem dos Médicos pretende celebrar a forma “empenhada e coerente, com competência e seriedade, sólido espírito de solidariedade, ética e respeito pela dignidade da pessoa humana”, com que alguns médicos se destacam na área da gestão, considerando que Luís Portela “preenche e supera estes critérios”.
A abertura da sessão esteve a cargo de Lurdes Gandra, secretária do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, que destacou a honra que é para o Porto receber neste local alguém que tanto elevou o nome da cidade e que projetou Bial a nível nacional e internacional. A sessão foi conduzida por Fátima Carvalho, membro da Competência em Gestão dos Serviços de Saúde.
Num discurso muito pessoal e emotivo, Luís Portela recordou os sonhos profissionais que tinha desde criança, e que nunca passaram por gerir uma empresa. Contudo, a morte prematura do pai afastou-o da prática clínica e passou a conduzir o destino de Bial, acabando por concretizar o que parecia impossível: “Por outro lado, tive a preocupação de constituir uma equipa de bons profissionais e também de pessoas intrinsecamente boas, que pudessem solidificar e desenvolver a empresa, indo se possível um pouco mais além. Alimentei o sonho de podermos tornar-nos numa empresa que proporcionasse novos medicamentos à humanidade. E esse sonho, inicialmente considerado impossível, foi sendo acarinhado e interiorizado por toda a equipa, que terminou por assumir uma postura de grande entrega e de superação, que nos proporcionou a sua concretização”.
Apesar de afastado da prática clínica, Luís Portela reconhece que o ser médico se revelou transformador na forma como exerceu a sua gestão. “Apesar de ter optado por não fazer as carreiras clínica e de investigação com que tinha sonhado, deixem-me dizer-lhes que os conhecimentos de medicina e a sensibilização para as questões da investigação que adquiri no Hospital e na Faculdade foram cruciais para a carreira de gestor que fiz. Tenho dito várias vezes que se tivesse feito o curso de gestão ou o de economia provavelmente não teria conduzido Bial de forma a se tornar uma empresa de investigação, uma empresa inovadora. Só a perspetiva médica e de investigação me terá permitido correr alguns riscos necessários para chegarmos onde chegámos. Com formação de base em gestão, tenderia, naturalmente, a focar-me mais nos números e menos nos ganhos terapêuticos, não tendo a coragem para correr grandes riscos”, contou.
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Luís Portela nasceu em 1951, no Porto, é licenciado em Medicina pela Universidade do Porto, tendo feito algumas ações de formação em gestão. Exerceu atividade clínica no Hospital de S. João apenas durante três anos e foi docente da Universidade do Porto durante seis anos. Desligou-se da carreira médica e universitária para se dedicar à gestão da empresa de sua família – Bial. Iniciou a atividade empresarial com vinte e um anos e aos vinte e sete assumiu a presidência executiva da empresa (1979-2011), tendo depois passado a presidente não executivo (2011-2021). Foi também presidente do Health Cluster Portugal (2008-2017) e do Conselho Geral da Universidade do Porto (2009-2013), vice-presidente da Fundação de Serralves (2001-2008) e membro da Direção da Cotec (2006-2012).
Sob a sua presidência, Bial tornou-se a primeira empresa farmacêutica internacional de inovação de origem portuguesa, operando atualmente em 60 países. No Grupo Bial criou e desenvolveu um Centro de Investigação, especializado na investigação de novos fármacos nas áreas dos sistemas nervoso e cardiovascular, onde trabalham atualmente 170 pessoas, das quais 70 são doutoradas. Nesse centro foram criados os dois primeiros medicamentos de investigação portuguesa a serem lançados no mercado global: a partir de 2009 – um antiepilético – e de 2016 – um medicamento para a Doença de Parkinson.
Em 1994 criou, conjuntamente com Bial e o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a Fundação Bial, tendo como objetivo incentivar a investigação centrada sobre o ser humano, tanto sob o ponto de vista físico como espiritual. A Fundação teve desde então mais de 1600 bolseiros em investigação científica em Neurociências, de 29 países. Também atribui três prémios – o Prémio Bial de Medicina Clínica, o Bial Award in Biomedicine e o Prémio Maria de Sousa, este último em parceria com a Ordem dos Médicos.
O seu prazer pela leitura e pela reflexão levou-o à escrita, tendo-o feito com caráter permanente em alguns órgãos de comunicação social e publicado dez livros. Entre muitas outras distinções, foi também agraciado com três condecorações do Estado Português: Comendador da Ordem do Mérito, Grã-Cruz da Ordem do Mérito e Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública. Em 2019 tinha já recebido também a Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos.
O nome de Luís Portela, neste Prémio de Gestão dos Serviços de Saúde, junta-se ao de outros médicos como Manuel Antunes, Eduardo Barroso, Sobrinho Simões, José Guimarães dos Santos, Germano de Sousa, Vítor Ramos e Carlos Freire de Oliveira.