A Ordem dos Médicos e o Colégio de Oftalmologia da Ordem dos Médicos denunciaram publicamente na quarta-feira que a região de Lisboa iria ficar sem urgência noturna de oftalmologia no período entre as 20h00 e as 08h00, que funcionava até agora no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) e/ou no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC). De acordo com a informação enviada pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), alegadamente na sequência de proposta dos hospitais, “durante o período das 20h às 8h não haverá atendimento de doentes externos, sendo que estes doentes serão observados no dia seguinte nos Hospitais da sua área ou, caso isso não seja possível, serão enviados durante o período diurno para o CHULN e para o CHULC, consoante as suas respetivas áreas de referenciação”.
Menos de 12 horas depois das primeiras notícias, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) veio assegurar que a decisão seria revertida por não ter sido bem acolhida. O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, saúda este recuo que serve o melhor interesse dos doentes, mas lamenta que a política de saúde dependa cada vez mais de denúncias públicas para reconhecer o que é melhor para o país, para o SNS e para os cidadãos. O encerramento da urgência noturna em Lisboa deixaria os doentes sem uma solução do Algarve até Coimbra, representando uma situação de iniquidade inadmissível num Serviço Nacional de Saúde que se pretende para todos.
Mais, a solução equacionada não garantia nenhuma segurança, ao prever ter apenas um oftalmologista de chamada, quando são precisos dois especialistas para operar. “Haverá um oftalmologista de prevenção em cada polo que responderá a situações de doentes politraumatizados ou doentes internados que necessitem de atendimento oftalmológico emergente, assim como as situações de glaucoma agudo. Todos os restantes doentes contemplados nos critérios de referenciação previamente acordados, poderão ser diferidos para o dia seguinte”, lia-se na mensagem da ARSLVT.
Por isso, a Ordem dos Médicos e o Colégio de Oftalmologia consideraram desde o início esta decisão administrativa inaceitável, por deixar sem uma resposta diferenciada de prontidão e de qualidade toda a zona sul do país. Além disso, a ARSLVT invocava que com este encerramento estaria a “garantir a segurança necessária e o cumprimento das normas recomendadas pelo Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos”, o que é uma afirmação que se socorria de forma abusiva e inadmissível o nome do colégio e da Ordem.
Recorde-se que, de acordo com as normas do Colégio de Oftalmologia, a equipa tipo para urgências de oftalmologia com mais de 20 urgências (como é o caso do CHULN e CHULC) é composta por dois médicos em presença física. No caso dos serviços que asseguram as urgências metropolitanas (Porto, Coimbra e Lisboa) onde seja expectável garantir cuidados cirúrgicos de urgência, defende-se até que os serviços tenham um terceiro elemento em regime de prevenção para garantir o normal funcionamento da urgência sempre que necessário.
O Colégio de Oftalmologia recorda que a Estratégia Nacional para a Saúde da Visão preconiza que Lisboa replique o modelo do Porto, com a fusão de dois serviços para garantir que está sempre um aberto no período da noite.