Os dados do Concurso do Internato Médico de 2025 revelam um agravamento de vagas não preenchidas em especialidades essenciais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Os números confirmam a perceção”, afirma o Bastonário da Ordem dos Médicos. Carlos Cortes sublinha “a crise estrutural na capacidade de atrair médicos para especialidades fundamentais do SNS, o que compromete a resposta nos cuidados primários e hospitalares, aumentando os riscos sérios de instabilidade do sistema. É urgente repensar condições de trabalho, atratividade e valorização.”
O Internato Médico é a principal via de formação especializada em Portugal.
De acordo com a análise realizada pela Ordem dos Médicos, Medicina Geral e Familiar, área essencial para garantir cuidados primários à população, encabeça a lista de especialidades com mais vagas vazias, 229. Das 690 vagas disponibilizadas, só 461 foram preenchidas. Um terço das vagas ficou por preencher.
“Desvalorizar a Medicina Geral e Familiar fragiliza todos os níveis assistenciais e coloca em crise faixas territoriais e segmentos da sociedade necessitados de cuidados de saúde próximos, eficazes e proativos. Sem interesse profissional pela especialidade gera-se incapacidade em estimular reformas adequadas e consolidadas no SNS”, nota o Bastonário da Ordem dos Médicos.
Segue-se a Medicina Interna, pilar fundamental dos hospitais. 52% das vagas foram ocupadas, ou seja, das 204 disponíveis apenas 106 foram preenchidas. Quase metade das vagas disponíveis ficaram vazias.
Verificou-se ainda desinteresse assinalável pela Medicina Intensiva, especialidade médica dedicada ao tratamento de doentes em estado crítico que necessitam de monitorização e suporte avançado de vida, e Saúde Pública, fundamental para a promoção, proteção e melhoria da saúde das populações.
No primeiro caso (Medicina Intensiva) 59 das 74 vagas foram preenchidas, no segundo (Saúde Pública) das 60 disponíveis, 23 ficaram vazias.
No total o concurso de internato médico de 2025 disponibilizava 2331 vagas, tendo sido preenchidas 1862, isto é, 20% ficaram vazias.
José Durão, Presidente do Conselho Nacional do Médico Interno considera que os resultados do concurso “reforçam o cartão vermelho que os jovens médicos dão à atratividade do internato médico. Por outro lado, demonstram a urgência de medidas de flexibilização dos percursos formativos, incentivos dirigidos a especialidades e regiões menos atrativas, assim como a necessidade de uma melhoria transversal das condições de trabalho.”
É evidente que o SNS enfrenta uma crise de recrutamento nas especialidades essenciais e que se agrava ano após ano. As regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte são as mais afetadas.
“Qual a razão para o Ministério da Saúde ainda não ter implementado o pacote de 25 propostas apresentadas e que visam melhorar as condições de trabalho, carreira, formação e remuneração, com o objetivo de reter profissionais no país e atrair aqueles que estão no estrangeiro?”, interroga-se o Bastonário da Ordem dos Médicos.
Lisboa, 30 de novembro de 2025