O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, acompanhado do presidente da Secção Regional do Norte, António Araújo, esteve no Hospital de São João, no Porto, no dia 11 de março, para uma reunião de trabalho. O objetivo foi o de obter informação sobre os doentes internados com COVID-19 e conversar com a administração do hospital e com os médicos.
Miguel Guimarães ficou ciente do “trabalho fantástico” que se está a fazer neste hospital. É um exemplo “para todos os hospitais que venham a ter muitos casos”, no entanto “é evidente que estão a precisar de um reforço de recursos humanos”, sublinhou. As palavras do bastonário foram sustentadas no que viu e ouviu dos seus colegas na reunião.
A infeciologista Ana Cláudia Carvalho deu conta que além do tratamento dos (na altura 29) doentes com COVID-19, os médicos estão a fazer um trabalho de literacia onde tomam nota das medidas que os doentes devem tomar, bem como as pessoas que tiveram contacto com uma pessoa infetada. Adicionalmente a equipa do São João criou um conjunto de notas, de acordo com normas internacionais, que podem ajudar outros médicos a lidar com inúmeras situações. É possível aceder aqui aos conteúdos criados por um conjunto de autores, numa iniciativa coordenada por Margarida Tavares e Cláudio Silva. “Nós temos capacidade de resposta rápida, mas há hospitais com mais dificuldades”, realçou a especialista.
O diretor do serviço de Infeciologia, António Sarmento, assume que começa a ser complicado definir escalas de urgência, mas olha para o futuro com o otimismo de quem ainda acredita que o contágio pode ser travado. Ainda assim, mesmo que se evolua para a fase de mitigação, António Sarmento considera que não se deve nunca descurar a contenção, “é menos mau ter 1000 casos num mês do que 1000 casos numa semana”, afirmou. Na opinião geral de todos os presentes apenas será possível conter a propagação com “medidas fortes e concretas”. Quando questionado sobre a situação italiana, considerou que o panorama é mais complexo também porque os italianos parecem confiar menos nas suas autoridades de saúde.
Fernando Araújo, presidente do conselho de administração, mostra-se cauteloso e preocupado com o número de vagas nos cuidados intensivos a nível nacional. Ainda assim, garantiu, o hospital está a tentar antecipar ao máximo do possível as necessidades acrescidas que poderá vir a ter.
Ana Cláudia Carvalho ressalvou ainda a importância das autoridades de saúde recorrerem ao contributo da Ordem dos Médicos para implementar medidas rápidas que travem o contágio. Criar capacidade para testar doentes no domicilio foi outra das medidas sugeridas.
Miguel Guimarães afirmou no final da reunião que o Governo “não tem de ter receio” de “tomar decisões de contenção porque elas são mesmo necessárias”. O bastonário deu ainda conta de que não quer que o país “passe por aquilo que outros países passaram, nomeadamente a Itália, e para isso é necessário quebrar a transmissão do vírus”. A criação de hospitais dedicados apenas ao COVID-19 foi outra proposta avançada pelo líder da instituição, para quem o país deveria ter pelo menos um na região norte, outro no centro e outro no sul. Uma possibilidade que deveria ser ativada “imediatamente”, defendeu.