A Ordem dos Médicos visitou ontem o Hospital de Santo António, no Porto, para perceber que impacto teve o combate à pandemia pelo novo coronavírus no segundo hospital do país que mais doentes recebeu. No total, esta unidade observou 9500 casossuspeitos, tendo detetado 1071 casos positivos. Entre os profissionais de saúde, houve 192 a ficar infetados, dos quais 39 médicos, 93 enfermeiros e 45 assistentes operacionais.
“Os médicos e os outros profissionais do Hospital de Santo António estão de parabéns pelo humanismo, dedicação, qualidade técnica e capacidade de adaptação que revelaram ao longo dos últimos meses”, destaca o bastonário da Ordem dos Médicos, lembrando que estiveram internados mais de 330 doentes. Houve mais de 600 que tinham condições para permanecer em casa e que aceitaram ser acompanhados por telefone, videochamada, email e por um App dedicada. No total chegaram a passar 59 doentes pelos cuidados intensivos. Neste momento o hospital só tem quatro internados, três dos quais em cuidados intensivos.
Miguel Guimarães, que visitou os serviços de infeciologia e de oncologia médica, após reunião com o conselho de administração do centro hospitalar, faz um balanço positivo do plano traçado para a pandemia, mas alerta que não é verdade quando se diz que o SNS não esgotou a sua capacidade. O presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, António Araújo, e a presidente do Conselho Sub-Regional do Porto, Dalila Veiga, acompanharam a visita.
“Todos sabemos perfeitamente que os hospitais têm taxas de ocupação muito elevadas e que isso não é de agora. É especialmente notório em alturas como a gripe, mas não é preciso estarmos em pleno inverno para nos depararmos com camas nos corredores. A resposta organizada durante a pandemia é de enaltecer, mas temos de perceber que as camas conseguidas para doentes COVID19 foram na sua maioria camas que ficaram vazias pelas cirurgias que não se fizeram ou pelos doentes que recearam vir à urgência, mesmo quando a sua situação poderia justificar um internamento”, esclarece o bastonário.
No caso do Hospital de Santo António, Miguel Guimarães adianta que a resposta para recuperar os doentes que ficaram sem consultas, exames e cirurgias já está desenhada, mas é essencial que a tutela colabore, o que passa por dar total autonomia para que os hospitais possam contratar os recursos humanos que entendam como essenciais para reforçar a resposta e manter a prestação de cuidados em segurança perante a nova realidade.
Ao mesmo tempo, os doentes devem confiar nos hospitais e saber que são sítios seguros, sendo muito mais arriscado verem as suas doenças a piorar por falta de acompanhamento. “Em termos de consultas, 75% do que foi feito no Santo António foi por teleconsulta que, como sabemos, não tem ainda em Portugal todos os recursos que deveria ter, como por exemplo vídeo que permita que médico e doente saibam quem está do outro lado, pelo que não substitui de todo um contacto presencial”, reforça o bastonário.
Lisboa, 6 de junho de 2020
2020.06.06_NI – Hospital de Santo António acompanhou mais de 1000 doentes com COVID-19