Carlos Cidrais Rodrigues

A notícia da sua partida chegou abruptamente pela voz do colega, amigo e vizinho José Costa, a meio de uma manhã abrasadora deste quase inferno que é a Terra Quente nesta quadra vésperas das grandiosas festividades da Nossa Senhora da Amparo na minha Mirandela Natal e quando me deliciava nos fartos pingos da água que em jacto poderoso fazia chegar às árvores sequiosas plantadas no último outono.
Foi quanto bastou para a memória me transportar ao nosso último encontro já há alguns anos atras, quando a meu pedido queria informar-me sobre o importante papel assistencial e social do já desaparecido Hospital de Crianças Maria Pia, no Porto, onde ele havia sido Médico distinto e membro de várias direções e que eu iria fazer constar num livro sobre a especialidade de Pediatria Médica a que chamei “Moira Encantada”.
Recordei-o também nos primeiros meses da revolução de abril de 1974, período tempestuoso e de algumas incertezas que o País viveu e agitou todas as instituições e a que o velho e saudoso Hospital de crianças também não foi alheio.
Nessas Assembleias gerais que então se realizavam quase diariamente á procura de um caminho que trouxesse estabilidade e justiça, pela minha ainda juventude era inevitavelmente o indicado para secretariar e registar o percurso da sessão e que ele quase sempres presidia.
Não mais esquecei a serenidade que contrapunha às impertinências das intervenções mais intempestivas, a sabedoria com que desmanchava as ignorâncias mais pretensiosas e a elegância com que enfrentava umas ou outra grosseria.
Devo-lhe, por exemplo, o encorajamento de participação e a explicação sobre as importâncias de publicar trabalhos de revisão casuísta em tempos difíceis em que as revistas científicas não abundavam. E devo-lhe também, afinal todos devemos os que foram médicos nos Hospital Maria Pia e que as forças Politicas recentes não souberam respeitar a sua história nem dar guarida ao seu património, a sua intervenção sábia e conciliadora em tempo de grande tensão Institucional quando o Hospital foi colocado em regime de instalação transitória.

Profissional distinto, humanista na relação com os doentes e familiares, culto, convivial e amigo, o Dr. Cidrais Rodrigues deixa um grande Vazio na família, comunidade pediátrica e círculo de amizades. Que descanse em Paz. Nós respeitaremos a sua memória e exemplos

 José Manuel Pavão, Cirurgião Pediátrico