No dia 29 de fevereiro o bastonário da ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, associou-se ao Congresso da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC), deixando palavras de apreço pelo empenho e trabalho do presidente desta associação, Osvaldo Correia, mas também aos atletas – como Rosa Mota e Paulo Guerra – e outras personalidades, que dedicam parte substancial do seu tempo a campanhas de literacia na luta contra o cancro de pele. Os intervenientes abordaram a importância do trabalho em equipa, da educação para a saúde e de reconhecer fontes de informação fidedignas.
A APCC, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), organizou o Congresso “Sol, Pele e Cancro Cutâneo em 2020”, um evento que teve como mote “Sol e Pele: saber conviver”. Esta foi a 18.ª edição do congresso que tem como destinatários os especialistas em Dermatologia, Oncologia, Medicina Geral e Familiar, Pediatria, Medicina Desportiva e do Trabalho assim como a educadores, enfermeiros, farmacêuticos, representantes autárquicos e de federações desportivas, aos quais sensibiliza para os benefícios e malefícios do sol, formas de proteção, como identificar sinais benignos e quais os sinais de alerta dos diferentes tipos de cancros da pele.
A sessão de encerramento, em que participou o representante máximo da Ordem dos Médicos, foi antecedida pelos testemunhos de Rosa Mota, que explicou que devemos procurar formas de comunicação adequadas a sensibilizar os mais novos para as questões de saúde, dando como exemplo que, na sua luta antitabágica, esta campeã relembra aos jovens que o consumo de nicotina, além de provocar cancro do pulmão, estraga a pele. “Porque os jovens preocupam-se mais com o aspeto físico do que com os pulmões que ninguém vê…”, fundamentou, frisando que o importante é que a mensagem seja eficaz.
Paulo Guerra, por seu lado, contou a sua experiência pessoal como atleta que teve um cancro de pele e enquadrou a importância de uso de protetor solar e de roupa adequada que nos proteja dos efeitos nocivos do sol, especialmente quando nos expomos num horário menos adequado. “O sol é bom e necessário”, com mais informação e constante aprendizagem podemos todos saber conviver melhor com ele.
O comunicador Jorge Gabriel, que também participa nas campanhas da APCC, lamentou que a população não esteja mais desperta para a necessidade de sentido crítico quando se usa a internet como fonte de informação, lembrando a importância de combater as fakenews e a publicidade enganosa, mas frisando que “não são os youtubers, instagramers ou bloggers da internet que passam a melhor ou pior informação. O que convém é que tenhamos critério” na procura dessa informação, lembrou, referindo a importância de procurar fontes fidedignas. Igualmente importante, explicou, é transmitir às pessoas que andar mais tempo na rua, em horários mais adequados, faz do sol nosso aliado. “De repente ficamos todos raquíticos, com falta de vitamina D”, brincou, exemplificando um dos benefícios do sol e como essa exposição moderada e consciente pode evitar despesas em saúde e idas ao médico, além de todos os benefícios de andar mais e de não levar as crianças para centros comerciais. “Temos que ser todos mais criteriosos e isso obriga-nos a trabalhar um pouco mais”, acrescentou, numa nova referência aos cuidados a ter para validar a informação.
Também presente nesta sessão, o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho, Jorge Manuel Barroso Dias, referiu a importância da prevenção primária e apelou à articulação da Dermatologia com a Medicina do Trabalho para que sejam reportadas todas as doenças profissionais, na lista das quais já estão incluídas as queratoses actínicas. “Se estabelecermos estas pontes entre especialidades, vamos fazer mais e melhor”.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, além de enaltecer o trabalho de todos em prol da sociedade, da educação para a saúde e da prevenção da doença, recordou que, mais uma vez, a sociedade civil está aqui a assumir o papel que o Estado devia fazer em termos de promoção da saúde. “O testemunho pessoal é essencial nestas matérias”, frisou, numa palavra especialmente dirigida aos atletas. Usando como ponto de partida os alertas deixados por Jorge Gabriel sobre a importância da informação a que se acede, o bastonário lamentou que não estejamos a “disponibilizar informação digital fidedigna”, o que poderia – e deveria – estar a ser feito se o Ministério da Saúde já tivesse levado a bom porto o protocolo proposto pela Ordem dos Médicos (e assinado por ambas as entidades) e que permitiria disponibilizar através de quatro plataformas de qualidade, informação para os 10 milhões de portugueses sobre, por exemplo, exposição solar e cancro cutâneo, diabetes, etc. “Porque a falsa informação e a publicidade enganosa invadem tudo” e compete-nos a todos um papel na informação para a saúde, realçou lembrando também o papel da comunicação social, única forma de corrigir a falta de literacia em saúde.
Segundo dados da APCC, estima-se o aparecimento de 13.000 novos casos de cancro de pele este ano em Portugal, dos quais mais de 1.000 serão novos casos de melanoma. Foi precisamente com o potencial de aumento do cancro cutâneo que iniciou a intervenção de Isabel Fernandes, em representação da Diretora Geral de Saúde. “Com as despesas a aumentar com estas patologias torna-se mais premente investir para melhorar a literacia e o acesso. (…) Concordo com o bastonário da Ordem dos Médicos que são necessários mais dermatologistas no SNS” pois, sem eles, como referiu, o diagnóstico precoce pode não acontecer.
Osvaldo Correia também enalteceu a importância da educação para a saúde e do recurso a mensagens cativantes que lembrem e promovam a proteção solar e o autoexame. “E lembrem-se de ver as costas dos vossos companheiros, porque eles não conseguem fazer autoexame nessa zona do corpo”. O presidente da APCC lembrou que a associação já realizou 25 reuniões em 18 anos (pois houve outros eventos além do congresso principal) e que desde há 18 anos que Portugal participa no Dia do Euromelanoma, iniciativa que engloba 34 países e que este ano decorrerá a 20 de maio. “Temos a obrigação de chegar à população”, alertou, lembrando a importância fulcral dos profissionais de saúde e referenciando pormenores que devem ser promovidos como o uso do chapéu ou a necessidade de renovar a aplicação de protetor solar ao longo do dia. Já Miguel Correia, presidente da SPDV, enalteceu que esta seja uma “reunião de portugueses a falar sobre a saúde dos portugueses”, em encontros que, garante, “têm salvo muitas vidas, tenho a certeza”.
A cerimónia de encerramento foi ainda o momento de entrega de Diplomas de Mérito a várias figuras públicas e colaboradores que ao longo de muitos anos ajudaram a APCC, como é o caso de Rosa Mota, Paulo Guerra, Jorge Gabriel, o arquiteto Sidónio Pardal, Alexandre Caires designer que criou o Zé Pintas, personagem usada em livros da APCC que promovem a educação para a saúde, e Nuno Almeida que colabora com a associação também na área do design, numa demonstração de que todo o trabalho precisa de uma equipa. “Nada se faz sem ser em equipa”, referiu Osvaldo Correia, como forma de agradecimento a todos os que contribuem para o trabalho desenvolvido.