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Ecos do congresso | Henrique Gouveia e Melo (coordenador task force para vacinação)

 

Quais foram os motivos que o levaram a aceitar tão prontamente o repto da Ordem dos Médicos para a vacinação dos profissionais que ainda estavam por inocular?

Foram motivos muito simples: os médicos, os enfermeiros, os farmacêuticos e outros profissionais de saúde, estão na linha da frente e são as tropas de combate. Se estamos em combate nós temos de ter cuidado com as nossas tropas, é tão simples quanto isso. São as pessoas mais importantes para a resiliência do processo e, portanto, para mim era uma evidência que tinha de os ajudar a superarem este processo para estarem prontos para ajudarem outras pessoas.

Até porque ao vacinar um médico, não está só a protegê-lo, mas também aos doentes…

Exatamente. Não só estou a proteger a capacidade do médico de cuidar de outras pessoas, como também estou a proteger todas as pessoas, muitas das quais frágeis, que têm a necessidade de contactar com um médico.

É uma questão de ética utilitária?

É uma ética utilitária no bom sentido do termo, é um princípio ético e o primeiro princípio ético é de que o combatente tem de estar protegido para o combate. E se o combatente pode afetar as pessoas que quer salvar, convém darmos ferramentas para que não as afete. Seria contraproducente.

No seu discurso aqui no congresso falou de foco e resiliência… Como é que tem conseguido manter o foco em tantos desafios que já teve de enfrentar?

Enquanto militares aprendemos e vamos treinando para tentar, mesmo no nevoeiro, perceber a direção. Estar sempre à procura do que é essencial, não nos dispersando com pequenos problemas e coisas menos importantes. Quando passei a ser o coordenador desta task force, a mesma disciplina e organização mental prevaleceu. Mal cheguei, tentei identificar quais eram os núcleos mais importantes de decisão, o que é que era importante decidir, o que era importante manter ou perseguir até à exaustão. Todos os dias falo com a minha equipa para ter uma visão mais alargada e estou sempre a questionar-me e ao processo, mas sempre com foco. O foco não é uma coisa retilínea, fazemos ziguezagues, não podemos é voltar para trás em sentido contrário.

Foi hoje homenageado pela Ordem dos Médicos, por iniciativa do bastonário, Miguel Guimarães, e de um submarino feito há mão por um dos elementos do Gabinete de Crise. O que é que achou deste gesto?

Eu fico comovido. Não sou muito de lacrimejar ou de chorar, nós militares temos aquela coisa de nunca chorar, mas cá dentro fico muito comovido. Não só pelo agradecimento, mas pelo cuidado, pela atenção, pelo esforço e o detalhe de fazerem uma coisa manual com esforço pessoal para conseguirem fazer o objeto. E é um objeto que me diz muito, pois passei 22 anos da minha carreira em submarinos. Vai ficar na minha memória, vai ficar numa estante lá em casa e quando olhar para o submarino irei lembrar-me sempre deste momento.