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Ecos do congresso | Carlos Robalo Cordeiro (presidente da comissão científica do congresso)

 

Que balanço faz deste congresso enquanto presidente da Comissão Científica?

Foi uma experiência extremamente enriquecedora fazer parte desta comissão organizadora. A discussão em volta dos temas foi fantástica. O congresso decorreu com muita dignidade e profundidade, focando o impacto da pandemia na vida dos médicos.

É membro do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a COVID-19, acabando por ter uma ligação mais abrangente aos médicos. Que desafios é que ainda temos relacionados com a própria pandemia?

A pandemia não terminou. Desejamos que caminhemos para uma endemia, mas ainda estamos em pandemia e há uma assimetria muito grande em termos globais. Temos um processo de vacinação que claramente está a caminhar a um ritmo diferente da pandemia nos países desenvolvidos e temos um processo muito assimétrico nos países menos desenvolvidos, onde aparecem novas estirpes. Estamos em pandemia, continuamos em pandemia, mas estamos mais perto de terminar. Ainda assim, a nova época gripal será uma incógnita. Houve uma menor identificação das estirpes em circulação e isso pode criar dificuldades na próxima época sazonal.

Tem referido outras áreas que o preocupam, como a saúde mental. Sente-se isso entre os médicos?

A doença mental vai claramente acelerar nos próximos tempos. Sente-se isso nos profissionais de saúde. As consultas que eu faço hoje são consultas que têm sempre essa componente. A ansiedade, a depressão e os problemas relacionados com o isolamento, a nível económico e laboral, estão presentes nos nossos doentes e na forma como afeta a sua vida e a evolução de outras doenças.

Como pneumologista, entende que a COVID-19 está longe de ser uma doença que termina com os critérios de cura?

Fala-se muito hoje do long Covid. Até um terço das pessoas mantêm sintomas até 12 semanas após a infeção e 10% podem manter para lá desses 3 meses. O mais crítico é que a existência dessas manifestações mais a longo prazo não tem relação com a gravidade da doença. Tenho doentes com essa situação, com doença ligeira, sempre geridos em casa e que mantêm fadiga, cansaço, entre outros sintomas.

A pneumologia já tinha carências. Como vamos acumular ainda mais esta resposta?

Essa é a parte se calhar mais difícil. Vai ser necessário ter uma coordenação muito grande entre os cuidados de saúde primários e a área hospitalar, no sentido de serem encaminhados para os hospitais os doentes que necessitem de cuidados mais diferenciados ou de monitorização e avaliação diagnóstica ou intervenções mais diferenciadas. Se 10% da população mantiver uma queixa mais de dois meses depois, isso significa mais 100 mil pessoas a sobrecarregar diferentes áreas. No meu caso particular, na patologia do interstício, já estamos a sentir isso. Os cuidados de saúde primários vão ter de criar vias de identificação dos doentes, com fluxogramas e definição de etapas.

Que palavra final deixa aos médicos e à Ordem dos Médicos?

A palavra que fica aqui para os médicos é “muito obrigado”. É o que temos de dizer a todos os que de uma forma ou de outra colaboraram, não é só a quem está na chamada linha da frente. Desde a saúde pública aos cuidados de saúde primários, passando pelos médicos hospitalares das diversas especialidades, todos merecem um “muito obrigado”. Relativamente à Ordem dos Médicos, nunca me tinha envolvido tanto, mesmo tendo presidido um Colégio, e agora no Gabinete de Crise só posso destacar a entrega que se sente. Tenho um enorme prazer e orgulho nesta proximidade à Ordem dos Médicos.