Autor: Teresa Barão, Médica Interna MGF na USF Famílias (ACeS Entre Douro e Vouga I)
Resumo: A Medicina Geral e Familiar como especialidade privilegiada na prestação de cuidados contínuos e longitudinais, usufruí uma arma terapêutica única: a relação médico-doente.
Numa época em que invadidos pela tecnologia, pela (des)informação, pela pressão da prescrição de medicação e meios complementares de diagnóstico, é importante não perder o foco – o doente.
Sou a refletir.
Sou a falar da arte da medicina, dos cuidados até à morte e depois dela.
Sou a falar dos cuidados centrados na pessoa e na família.
Sou a falar do cuidar, muito para além do curar:
Não,
Já não o vejo no seu olhar,
A cada encontro, conta os seus caminhos
Recorda as encruzilhadas e lutas
As perdas e as vitórias
Hoje, conta-me de novo,
De olhos vazios,
Vazios de amor e repletos de saudade.
Ela foi-lhe roubada
Fala-lhe, reza-lhe, reserva-lhe o seu lugar
Confessa-lhe como a mim,
A pouca sorte, a solidão e a saudade
“Chorar alivia-me a alma”
Como anseia o reencontro
“Quando Deus quiser”
Hoje, tão pouco o vi no seu corpo
Não lhe pertence já,
Pede licença,
Pela porta entra a sombra débil
De quem outrora, sempre acompanhado
Ostentava robustez
E conta-me de novo
É tudo o que precisa da consulta
E amanhã, estarei aqui
Como no ontem
Como hoje