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Dia Internacional da Medicina de Urgência

O Porto Canal promoveu um debate, em direto do Hospital de São João no Porto, a propósito do Dia Internacional da Medicina de Urgência que se celebra a 27 de maio, com o objetivo de refletir sobre as reformas necessárias no pós pandemia.

Nelson Pereira, diretor da urgência e do serviço de medicina intensiva do Hospital de São João, falou sobre a desregulação da procura, lembrando que “Portugal é o país da OCDE que tem mais episódios de urgência por 100 mil habitantes”. O motivo dessa desregulação é simples: desconhecimento ou menos boa organização leva a que os doentes cheguem ao Serviço Nacional de Saúde pela “porta errada”. “Esse é um dos principais problemas que temos: o excesso e desregulação da procura”, frisou.

Dulce Pinto, diretora executiva do ACES Porto Oriental, considera que Portugal tem uma das melhores redes de cuidados de proximidade mas “estamos ainda hoje situados numa reforma que foi lançada há 15 anos e, portanto, houve muita coisa que mudou. Estarmos no limiar da necessidade de reformular um conjunto de medidas, sobretudo organizativas, que afetam todo o sistema, mas especialmente os cuidados de proximidade.” Tem que haver verdadeira acessibilidade, uma vertente onde ainda temos muito a fazer, considerou. Recuperando uma afirmação do bastonário da Ordem dos Médicos, com a qual, salientou, concorda totalmente, considerou “doloroso” que médicos e enfermeiros gastem o seu tempo “em tarefas absolutamente redundantes, burocrática e administrativas e que são de uma ineficiência enorme”.

“Temos um bom serviço nacional de saúde mas dizer isso não chega”, alertou Miguel Guimarães frisando que a base do sistema são os cuidados de saúde primários e que é por aí que temos que começar. “Não podemos aceitar como normal que mais de 900 mil portugueses ainda não tenham médico de família. (…) Se porventura o Estado contratasse um terço dos médicos de família que estão fora do SNS todos os portugueses teriam médico”. “Se não melhorarmos as condições de trabalho dos profissionais de saúde em geral, e especificamente dos médicos e dos enfermeiros”, continuaremos a ter falta de recursos humanos essenciais porque continuarão a emigrar ou a sair para o setor privado, alertou. Melhores remunerações, projetos aliciantes, respeito pela progressão das carreiras, valorização da qualidade, redução da carga burocrática, melhoria dos sistemas informáticos, etc. são fatores de motivação que foram salientados pelo bastonário da Ordem dos Médicos como elementos fulcrais.

Se o primeiro desafio é reforçar os cuidados de saúde primários, o segundo é claramente a literacia em saúde para que os cidadãos saibam como usar os serviços de saúde, explicou Miguel Guimarães, frisando a relevância de se ensinar as pessoas a reconhecer se a sua doença é mais ou menos grave, para que consigam distinguir quando é que se devem dirigir a uma urgência ou ao seu médico de família.

 

 

Especificamente quanto ao serviço de urgência “devemos ter sempre como objetivo melhorar o que fazemos”. “Não posso criticar um doente que vem ao serviço de urgência, se o doente me disser que não tem outra alternativa, que quer marcar uma consulta e não consegue”, alertou Miguel Guimarães num apelo a que qualquer reforma que seja implementada tenha sempre em conta que os cidadãos não podem ficar sem resposta – “todo o sistema tem que estar organizado” para podermos implementar a reforma na urgência.

Referindo a evolução das últimas décadas, Luís Meira, presidente do conselho diretivo do INEM, salientou que “há muito trabalho feito” embora reconheça que “há ainda muito a fazer” num sistema de saúde que é muito abrangente e que, por isso mesmo, é complexo. Explicando a organização que está implementada no terreno, e o papel do INEM, aceitou que “há algumas dificuldades” mas o sistema “permite uma resposta integrada que, nas situações mais graves, deve começar pelo 112”. O representante do INEM concordou com o bastonário da Ordem dos Médicos ao salientar igualmente que há pessoas que vão à urgência por falta de alternativa, mas que muitas outras é por “não terem os conhecimentos necessários que lhes permitam ser agentes ativos” do seu percurso em saúde e lamentou que faltem perspetivas de carreira pois isso “limita a disponibilidade” dos profissionais para trabalhar na área da urgência.