A tecnologia é uma base fundamental para melhores cuidados de saúde e a pandemia acelerou e trouxe novas oportunidades nesta área. Estas são algumas das ideias que estão na origem do livro “Transformação Digital em Saúde – Contributos para a Mudança”, coordenado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), e apresentado esta semana. O bastonário da Ordem dos Médicos foi um dos autores convidados para a obra, partilhando a sua visão sobre a importância da governança digital em todas as políticas.
“A tentação de confundir meios, fins e necessidades é grande nos mais diversos sectores de atividade, mas muito em particular na saúde”, começou por destacar Miguel Guimarães, no seu testemunho, evocando depois David Blumenthal, que foi conselheiro de Obama e National Coordinator for Health Information Technology, entre 2009 e 2011, pelo seu vasto conhecimento e experiência na área da telessaúde e das tecnologias da saúde.
“Information is the lifeblood of medicine and health information technology is destined to be the circulatory system for that information”, definiu Blumenthal, considerando o bastonário que “efetivamente, seja qual for a área da medicina, da recolha e do armazenamento de informação, passando pela análise de dados, tratamentos ou monitorização, a tecnologia deve apenas ser um meio facilitador para se alcançar os necessários cuidados em saúde, com o fim último de proporcionar mais tempo e qualidade de vida aos nossos doentes”.
A sessão de apresentação da obra, que decorreu em Lisboa, esteve a cargo de André Aragão de Azevedo, Secretário de Estado para a Transição Digital. Seguiu-se uma mesa-redonda, moderada pela jornalista Dulce Salzedas, e que contou com Teresa Magalhães, Coordenadora da obra e do Grupo de Trabalho Gestão da Informação em Saúde e Professora da Escola Nacional de Saúde Pública, Luís Goes Pinheiro, presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, Sandra Gil Mateus, Health Lead da Microsoft Portugal, Rubina Correia, Membro do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos em representação do bastonário, e Paulo Gonçalves, como representante das Associações de Doentes.
A mesa partilhou várias preocupações relacionadas com a humanização e a tecnologia, a segurança dos dados e a interoperabilidade entre sistemas. Do lado da Ordem dos Médicos, Rubina Correia começou por lembrar que “a arte da medicina é milenar e tem regras éticas e deontológicas e um método de raciocínio que tem de ser respeitado e que é difícil de transpor para o digital”.
Depois, a também especialista em medicina geral e familiar identificou a forma como os médicos são chamados ao processo como um dos principais entraves ao sucesso. “Muitas vezes os médicos são envolvidos no desenho dos sistemas informáticos numa fase já tardia em que minimizam os danos. Este desenho clínico deve estar envolvido desde o início”, defendeu, dando depois vários exemplos, ao longo do debate, de como a existências de vários softwares que não comunicam aumentaram até a burocracia do trabalho médico, reduzindo o tempo para os doentes – que devia ser o ganho maior, além da segurança.
Veja a apresentação do livro: