A sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa, acolheu no dia 19, uma sessão/debate sobre os mais recentes acontecimentos relativos à pandemia de Covid-19. A organização, da empresa FDC Consulting, contou com o apoio da Ordem dos Médicos, Ordem dos Farmacêuticos e da APIFARMA, juntando várias personalidades do setor da saúde e que, de uma forma ou de outra, estão na linha da frente no combate ao surto que está a mudar as rotinas em Portugal e no mundo. Participaram Miguel Guimarães, bastonário da OM, Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Filipe Froes, pneumologista e investigador, António Diniz, pneumologista e coordenador da unidade de imunodeficiência do Centro Hospitalar Lisboa Norte, e Francisco Antunes, professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e especialista em doenças infecciosas. A moderação esteve a cargo de Marina Caldas e a iniciativa foi transmitida pela internet, em direto, via streaming, cumprindo assim as recomendações da DGS relativas à concentração de pessoas no mesmo espaço.
Os bastonários presentes mostraram-se concordantes com a medida do estado de emergência, declarado por Marcelo Rebelo de Sousa, pouco tempo antes do início deste debate. Miguel Guimarães caracterizou a decisão como “essencial”, uma vez que estamos perante “uma situação muito grave” e “com uma mortalidade bem acima da gripe sazonal”. O bastonário da Ordem dos Médicos sublinhou que existe evidência científica que sustenta as melhores medidas para tentar conter o vírus. Essa evidência é o que aconteceu nos países afetados bem antes de Portugal, como por exemplo a China e Macau.
A comparação da pandemia, que em Portugal já tinha infetado mais de 640 pessoas pela altura desta sessão, com um cenário de guerra foi uma constante das intervenções dos dois bastonários. “Neste momento isto é uma guerra do vírus contra a humanidade”, disse Miguel Guimarães, acrescentando que é preciso chamar os militares para esta “guerra”, uma vez que “temos especialistas no Exército que poderiam coordenar a resposta a nível nacional”, considerou.
O bastonário dos médicos criticou no entanto que algumas medidas estejam a ser tomadas demasiado tarde. Uma das principais preocupações, afirmou, é que os médicos, e os restantes profissionais de saúde, continuam sem os devidos equipamentos de proteção individual em número suficiente. Além disso “é bem provável que os ventiladores que existem no país não sejam suficientes”, alertou. Sobre esse problema, acabaria por revelar que existe um grupo de profissionais a trabalhar afincadamente na possibilidade de serem fabricados ventiladores no país.
Por sua vez, Ana Paula Martins disse que as farmácias portuguesas são procuradas diariamente por um milhão de pessoas e lamentou que tenha até agora havido “falta de liderança” na luta contra a pandemia. “Não é o momento de apontar o dedo. Mas de dizer que só chegámos a esta situação de uma reação mais lenta em algumas medidas porque as lideranças foram desvitalizadas”, sublinhou.
A líder dos farmacêuticos enalteceu o papel dos “soldados rasos” que, todos os dias, trabalham e se coordenam para continuar a abastecer os medicamentos necessários para os portugueses. Como exemplo de coordenação de sucesso ao mais alto nível, Ana Paula Martins, referiu as ordens profissionais do setor da saúde que, realmente, “trabalham em conjunto”, com resultados visíveis e produtivos.
Quanto aos restantes intervenientes, que integraram um primeiro painel de análise, foi consensual entre os mesmos a necessidade de “achatar” a curva de infetados em Portugal. Ou seja, não atingir o pico da infeção demasiado rápido. A explicação, dizem, é garantir que o sistema de saúde português tenha capacidade de resposta para atender todos aqueles que tenham necessidade de internamento.
António Diniz falou do que se sabe da doença e de como a evitar (evitando contactos e lavando as mãos com frequência, por exemplo) e disse não acreditar que surja uma vacina para toda a população antes do final do ano, muito devido aos necessários testes que comprovem a eficácia da mesma em humanos. Já Filipe Froes lembrou que o aparecimento de vírus é recorrente, ainda que as pessoas nunca estejam preparadas nem à espera. “Era possível estarmos melhor preparados” e menos dependentes de medicamentos feitos fora do espaço europeu, considerou. Francisco Antunes adicionou que existem sete espécies de coronavírus e que três delas são recentes. “O que está a acontecer com a Covid-19 era previsível que acontecesse”, ainda que ninguém estivesse à espera que tivesse a dimensão que tem.
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