Cerca de 66% dos médicos portugueses relatam um nível elevado de exaustão emocional, 39% demonstram níveis elevados de despersonalização e 30% referem uma elevada diminuição da realização profissional. Com estes três indicadores juntos estão reunidos os fatores necessários para o aparecimento da síndrome de burnout, conclui o estudo nacional financiado pela Ordem dos Médicos sobre burnout nos médicos em Portugal, que será publicado esta semana na Revista da Ordem dos Médicos.
“O estudo apresenta-nos dados muito preocupantes sobre as perceções da saúde física e mental dos médicos, o equilíbrio trabalho-família e a qualidade do seu desempenho”, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos. Para Miguel Guimarães é, assim, “fundamental e urgente tomarmos medidas concretas de apoio aos profissionais de saúde, pelo que a Ordem decidiu criar um Gabinete Nacional de Apoio ao Médico que dará resposta a estes casos, mas também a outros episódios que infelizmente têm vindo a crescer, como a violência contra profissionais de saúde”.
“Sabemos que idealmente compete ao Estado assegurar uma resposta a todo este tipo de situações. Mas, nesta como noutras questões, o Estado não tem sido capaz de defender o interesse público e garantir a segurança dos profissionais e dos doentes. Por isso a Ordem decidiu reforçar a sua capacidade de intervenção, colmatando uma carência que tem repercussões no funcionamento e na qualidade do Serviço Nacional de Saúde”, acrescenta o bastonário.
O estudo, realizado em parceria com o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, analisou também outras variáveis e concluiu que a diminuição do equilíbrio na relação trabalho-família surge como consequência negativa associada à dimensão de exaustão emocional. Cerca de 45% dos inquiridos apresentaram níveis de ansiedade elevados e em 21% foram identificados sinais de depressão.
No total, 64% dos participantes pertence à carreira Hospitalar e 25% à Medicina Geral e Familiar, sendo 24% da amostra médicos internos e 45% especialistas. No que respeita ao local de trabalho, 54% refere que o seu principal local de trabalho é um hospital público e 10% exercem em hospital ou clínica privada.
Sobre o estudo
O universo deste estudo foi constituído por todos os profissionais registados na Ordem dos Médicos, em exercício e com contacto possível (43983 sujeitos, de um total de 49152 médicos registados). Todos foram convidados a participar no estudo e as respostas foram obtidas através de um questionário digital e numa versão impressa. Em relação às medidas de burnout responderam 12580 médicos (29% de taxa de resposta) e 9176 inquéritos (21%) estavam completos e entraram na análise. Esta taxa de resposta assegura uma margem de erro de 1,2% para um nível de confiança de 99%. A dimensão relativa e absoluta deste estudo coloca-o numa posição influente a nível internacional.
Descarregue aqui o estudo completo
Sobre o burnout
Atualmente este conceito pode ser definido como um estado de exaustão física, mental e psicossocial resultante de uma exposição crónica a níveis elevados de exigências ou fatores de stress continuados, num contexto profissional, com um sentimento de controlo pessoal reduzido. Múltiplos trabalhos têm procurado identificar a prevalência e incidência do burnout em diversas profissões. A área da saúde tem sido das mais estudadas, dada a alta prevalência deste fenómeno e o seu impacto nos profissionais e nos indivíduos que deles dependem.
Sobre o Gabinete Nacional de Apoio ao Médico
O Gabinete Nacional de Apoio ao Médico vítima de burnout ou de agressão/violência será constituído nesta primeira fase pelos médicos Nídia Zózimo, João Redondo e Dalila Veiga. Este Gabinete terá a missão de definir e implementar um plano de estratégia de prevenção e de apoio aos médicos em colaboração com diferentes instituições públicas e privadas.