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Comunicado

Comunicado
O Sr Ministro continua a reiterar para a comunicação social uma vontade de diálogo que pouco cultivou durante seis meses.
Lembra os doentes que desprezam sobranceiramente as medidas de prevenção cardiovascular que os médicos insistentemente recomendam e que só depois de terem um grave enfarte do miocárdio que os deixa às portas da morte procuram remediar desesperadamente os graves erros cometidos. Por vezes, é tarde demais.
Demonstra também que o Sr. Ministro tem uma grande facilidade em falar com os jornalistas mas uma inabilidade extrema em dialogar com os profissionais de saúde e com os doentes. Talvez seja o reflexo dos seus vários assessores de comunicação, que nada acrescentam à saúde ou aos doentes, mas a quem paga principescamente, muito mais do que quer pagar a médicos, enfermeiros, nutricionistas e outros profissionais de saúde ou contratualizar com as associações de doentes.
Há questões extraordinariamente relevantes em cima da mesa, mas o Sr. Ministro persiste em mistificar as mais importantes e em refugiar outras sob a capa de uma ingénua retórica política.
Revelando uma chocante frieza financeira e insensibilidade para qualquer problema social, o Sr. Ministro continua a obstinar-se em contratar médicos a 3,96 euros à hora, como faz com enfermeiros e nutricionistas, e em levar as associações de doentes, alimentadas por um dedicado voluntariado, à falência financeira e encerramento de portas.
Como afirma o Dr Paulo Mendo, ex-Ministro da Saúde, com toda a propriedade, “os médicos têm toda a razão em fazer greve neste contexto”. Fazem-no pelos direitos dos Doentes, pela Qualidade do SNS e pela dignidade e formação profissional dos Médicos. Fazem-no igualmente por todos os cidadãos deste país que estão a sofrer de uma “profunda desvalorização do trabalho”, parafraseando o politólogo André Freire.
Em boa verdade, o Sr. Ministro age como se não pretendesse dialogar seriamente com os sindicatos Médicos, não obstante para a comunicação social repetir à exaustão o contrário, talvez recordando a máxima de Joseph Goebbels de que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Num país onde quem não tem razão procura e privilegia a comunicação social, tudo vai mal.
Quem quer dialogar com seriedade fá-lo discretamente, nos gabinetes, nunca através do ruído da comunicação social.
Sejamos claros, as pequenas propostas que o Ministro apresentou sob pressão, pouco concretas e, nalguns casos, meras inevitalidades, não escondem que fugiu às questões essenciais e que não constituem suficiente substância para um diálogo profícuo a dois dias da greve dos Médicos.
Se o Sr. Ministro da Saúde continuar a sofrer da sua confrangedora incapacidade negocial, vai fazer transitar para o Primeiro Ministro um grave problema na Saúde.
Talvez seja necessário um mais amplo movimento de profissionais da Saúde e Doentes para o fazer compreender que os problemas da Saúde não se resolvem com simples atitudes cosméticas, rebuscadas e desleais estratégias comunicacionais ou meras operações financeiras.
Está tudo nas mãos do Sr. Ministro da Saúde. Veremos se o Dr Paulo Macedo tem as necessárias soluções ou se é apenas mais um dos muitos problemas deste Governo.
Pela nossa parte, os Médicos continuam totalmente disponíveis para um diálogo sério, honesto e com bases sólidas. Que até hoje nunca aconteceu.

José Manuel Silva
Bastonário da Ordem dos Médicos

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