O Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) realizou a sua primeira cirurgia robótica, um primeiro passo na utilização de um equipamento que, em plena utilização, estima-se que permitirá a realização de 846 cirurgias por ano.
“A realização desta primeira cirurgia – prostatectomia radical – com recurso ao robot cirúrgico é seguramente a primeira de muitas que se realizarão com ajuda desta tecnologia”, assegurou Carlos Silva, Diretor do Serviço de Urologia do CHUSJ. As principais áreas de utilização da cirurgia robótica neste primeiro ano serão a Urologia, a Cirurgia Geral e a Ginecologia, mas outras especialidades também já manifestaram interesse em fazer parte.
Questionado sobre as principais vantagens do uso do robot cirúrgico, Carlos Silva destaca a “melhor postura ergonómica (aspeto fulcral em cirurgias complexas e prolongadas)” e a possibilidade de “readquirir capacidades da cirurgia aberta, diminuindo ou mesmo ultrapassando as principais desvantagens e limitações da cirurgia laparoscópica (visualização de imagem a duas dimensões, restrição da destreza manual e amplitude dos movimentos, amplificação de tremores fisiológicos e diminuição da sensação táctil nos tecidos)”.
O sistema robótico recebe as ordens em tempo real e reproduz os movimentos da mão, punho e dedos do cirurgião, permitindo o acesso a espaços confinados como a cavidade pélvica e espaço retroperitoneal, o que contribui significativamente para a diminuição da curva de aprendizagem de intervenções cirúrgicas complexas, tais como a prostatectomia radical, cistectomias radicais e cirurgia renal.
Teixeira Sousa, cirurgião principal de Urologia no CHUSJ, acredita que “o sistema da Vinci veio oferecer uma técnica mais refinada e segura na abordagem de doenças dos órgãos internos por vezes de difícil acesso através de outras técnicas, mas também permite conforto e descontração ao cirurgião para ter as condições ideais enquanto está a operar um paciente”.
O procedimento foi realizado num doente com cancro da próstata clinicamente localizado e ocorreu “sem intercorrências, com alta precoce”, revelou Teixeira Sousa. Trata-se de uma abordagem que “combina a cirurgia minimamente invasiva tradicional com a utilização de um sistema robotizado, com a vantagem de um maior detalhe cirúrgico e maior segurança para o doente, comparativamente com outras técnicas cirúrgicas”, explicou.
De uma forma geral, a cirurgia robótica apresenta como principais vantagens sobre a cirurgia aberta todos os benefícios já conhecidos da cirurgia minimamente invasiva, sendo eles uma menor dor no pós-operatório, menor sobrecarga e melhor resposta do sistema imunitário, recuperação geral mais rápida, regresso mais rápido à atividade profissional, menor incidência de infeções e de hérnias incisionais e cicatrizes operatórias pouco visíveis.
A cirurgia robótica é uma técnica de abordagem cirúrgica que alia as vantagens da cirurgia laparoscópica com as vantagens da utilização de um dispositivo robotizado, com aumento demonstrado da segurança e diminuição dos erros e complicações cirúrgicos.
“Compreende-se assim que este avanço tecnológico se tenha tornado muito atrativo para os cirurgiões interessados nas técnicas minimamente invasivas. A perspetiva é que nos próximos anos a cirurgia laparoscópica assistida por robot se torne cada vez mais acessível, e se torne uma rotina nos hospitais portugueses”, concluiu Carlos Silva.