Portugal em nono lugar na Europa no número de médicos oftalmologistas por cada 10 000 habitantes
Segundo um Censo realizado pelo Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos (OM) e de acordo com os dados da OCDE, Portugal ocupa o nono lugar entre países europeus no número de oftalmologistas, com 0,9 oftalmologistas inscritos por cada 10 000 habitantes. Considerando apenas os oftalmologistas com menos de 70 anos, o número desce para 0,6.
Relativamente a médicos a exercer no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o valor é de 0,45, e cai para 0,35 por 10 000 habitantes, quando são considerados apenas os médicos com contrato a tempo inteiro, ou seja, que trabalham pelo menos 40 horas por semana.
Embora o número total de oftalmologistas em Portugal esteja em linha com a recomendação internacional (0,5:10 000 habitantes), há um défice de 127 profissionais a exercer no SNS, o que reflete a necessidade de atrair e reter médicos especialistas no SNS.
Quando comparado com outros países, Portugal regista um número de oftalmologistas superior a países como Espanha (0,89 para 10 000), França (0,88 para 10 000) ou o Reino Unido (0,22 para 10 000).
“Os números para a especialidade de oftalmologia, apesar de estarem em linha com os europeus, devem ser analisados cautelosamente, atendendo à idade dos médicos e às necessidades da população portuguesa”, alerta Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos.
“A sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde depende da sua capacidade de captação de médicos especialistas. É urgente criar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, disponibilizar tempo para o estudo autónomo e construir uma carreira médica atraente. Só assim teremos mais médicos especialistas no SNS”, refere o Bastonário.
O número de oftalmologistas em Portugal tem aumentado nos últimos anos, e acompanha a tendência do aumento do número de médicos. De acordo com os dados recolhidos pelo INE, entre 1991 e 2021, o número de médicos aumentou 107% e o número de oftalmologistas 161%. O número de oftalmologistas por 10 000 habitantes passou de 0,4 para 1,1 no mesmo período (0,9 com inscrição ativa na OM).
Segundo o estudo do Colégio de Oftalmologia, 97,3% dos oftalmologistas tem nacionalidade portuguesa, 57,6% tem mais de 50 anos e 59,6% é do sexo masculino. Em 46,7% dos casos a formação específica foi realizada na região de Lisboa, 27,3% complementaram o internato com formação adicional e 9,5% fizeram um doutoramento.
Para Augusto Magalhães, ex-presidente do Colégio de Especialidade de Oftalmologia e coordenador do estudo, “embora o número de oftalmologistas em Portugal seja superior à média da OCDE, é notória a falta de especialistas no SNS. É por isso importante definir políticas de saúde governamentais e medidas urgentes capazes de reter e captar mais médicos oftalmologistas para o SNS”.
O estudo permite ainda concluir que, nos próximos cinco anos, a formação anual de 20 a 23 novos especialistas permitirá compensar a cessação de atividade profissional de oftalmologistas (por reforma ou por outra razão), com um balanço positivo superior a 0,8%.
O Censo de Oftalmologia foi realizado pelo Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos, em parceria com a Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém, entre 1 de dezembro de 2021 e 14 de fevereiro de 2022. A taxa de resposta foi de 64,7%, (de um total de 910 oftalmologistas inscritos).
Este estudo, publicado na Acta Médica Portuguesa, teve como objetivo principal caracterizar os recursos humanos existentes e a sua capacidade produtiva, bem como a sua tendência evolutiva, no âmbito da capacidade formativa disponível. Pretende também caracterizar a segmentação etária da população oftalmológica, a sua distribuição geográfica e estruturação por áreas de diferenciação específica, de forma a compreender e a projetar as necessidades do sistema num período temporal de 5 anos.