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Carta do Bastonário – Apelo renovado aos médicos em momento de crise

Estimados Colegas,

Há oito meses escrevia-vos a minha primeira carta sobre a pandemia que assolava o mundo, uma emergência de saúde pública internacional que a todos nos apanhou desprevenidos. O título escolhido para a missiva foi “COVID-19: Apelo aos médicos para ajudar Portugal e os portugueses”. Ainda sabíamos muito pouco sobre o então novo coronavírus e o impacto que ia ter em Portugal. Pelas nossas casas entravam já imagens de horror do que acontecia em países como Itália e como Espanha, que nos permitiram antecipar medidas, como o confinamento, e evitar um caminho semelhante.

Infelizmente, por razões várias que merecerão reflexão noutro local que não esta carta, Portugal vê-se agora confrontado com uma segunda vaga da pandemia, que está a ter um crescimento exponencial preocupante, com grande impacto sobre os serviços de saúde, seja na saúde pública, na medicina do trabalho, nos centros de saúde, seja nos hospitais, em enfermaria e em cuidados intensivos. A liderança clínica e o trabalho em equipa, a partilha de conhecimento e a vossa capacidade extraordinária de fazer acontecer, têm permitido que, dentro de todas as dificuldades, consigamos resultados clínicos muito positivos.

Sabemos que com medidas antecipadas poderíamos ter evitado chegar a um número de casos diários que colocam mais pressão em cima de um Serviço Nacional de Saúde fragilizado, com médicos e outros profissionais exaustos e em sofrimento. Gostaríamos de ter chegado aqui com um investimento de grande robustez no nosso SNS e com uma visão global de um serviço público a liderar todos os recursos humanos, técnicos e infraestruturais disponíveis, que permitisse dar uma resposta aos desafios que a pandemia, direta ou indiretamente, nos coloca pela frente, os nossos doentes covid e os nossos doentes não covid que têm visto, em múltiplos casos, as suas consultas, exames e cirurgias a ficar para trás – o que nos causa um sofrimento ético que deixará marcas para sempre, ignorado de forma negligente pelos profissionais da política.

Chegámos aqui com condições de trabalho debilitadas para nos ajudar a salvar a vida dos nossos doentes. Mas chegámos aqui como médicos. E é ao lado dos nossos doentes que vamos continuar. O nosso humanismo e sentido de solidariedade, esses felizmente não dependem de nenhum decreto nem da vontade política. E é neste contexto que vos escrevo, ousando pedir-vos uma vez mais que se disponibilizem para reforçar o Serviço Nacional de Saúde neste período crítico transitório e sempre na medida da vossa possibilidade, uma vez que bem sei que muitos de vós estão também sobrecarregados a recuperar o que ficou por fazer.

Dirijo-me a todos os médicos, mas também muito em especial aos médicos que já saíram do SNS, para trabalhar noutros setores ou por aposentação, para que neste momento de crise considerem a possibilidade de estarem disponíveis para ajudar Portugal, e voltar a trabalhar temporariamente, na medida do possível, no serviço público para que o país possa responder ao acréscimo de procura da Covid-19, sem deixar os outros doentes para trás. Cada médico poderá dar o seu contributo na sua área de conforto e saber.

Independentemente da nossa especialidade ou do setor onde trabalhamos, a nossa principal missão como médicos foi e será sempre servir a causa pública, os cidadãos, os doentes. Seja na promoção da saúde e prevenção da doença, ou no diagnóstico, reabilitação e tratamento de doentes. Cuidar dos doentes, dar-lhes qualidade e anos de vida, salvar vidas, uma nobre missão que torna a nossa profissão especial e única.

Este continua a ser um momento de união entre todos os cidadãos, médicos e profissionais de saúde. Colocar as divergências de lado é essencial quando o país precisa de nós, mas não abdicaremos de continuar a ser uma voz ativa na apresentação de recomendações e soluções que defendam os médicos que representamos e a saúde dos nossos doentes.

O meu orgulho em ser médico e em representar-vos sai reforçado a cada momento.

Conto com todos e com cada um de vós.

Muito obrigado.

Com afeto, respeito e admiração,

Miguel Guimarães

 

Peço a todos os médicos que possam estar disponíveis para reforçar a capacidade de resposta dos nossos serviços de saúde nesta fase crítica, que se pode vir a agravar de forma considerável, que se inscrevam desde já, preenchendo todos os dados solicitados e autorizando a partilha destes dados para posterior contacto do Ministério da Saúde.