Não é só a Ordem dos Médicos que o diz. A evidência científica disponível é cada vez maior e aponta para um risco real de reinfeção de quem já teve COVID-19, tanto nas formas mais ligeiras como mais graves da doença. A duração da imunidade é também imprevisível, saindo reforçada a ideia de que quem já teve infeção por SARS-CoV-2 deve na mesma ser incluído nos planos de vacinação, sobretudo em casos de maior exposição ao risco, como acontece com os médicos e outros profissionais de saúde, e em casos de maior fragilidade, como acontece com as pessoas mais idosas.
“A Ordem dos Médicos já fez várias insistências junto da Direção-Geral da Saúde e apelos no sentido de podermos vacinar os profissionais de saúde e as pessoas mais frágeis, que já tiveram COVID-19. Sabemos hoje que infelizmente a doença não dá a proteção que gostaríamos e, existindo uma vacina, não é admissível que continuemos a exigir que as pessoas trabalhem na linha da frente sem estarem devidamente imunizadas”, alerta o bastonário da Ordem dos Médicos. “A evidência científica vai no sentido de vacinar, com uma ou duas doses, consoante os casos, as pessoas que já estiveram doentes. Custa-me perceber a resistência da Direção-Geral da Saúde em alterar uma norma obsoleta e, sobretudo, muito injusta. Só Portugal e a Islândia estão nesta situação”, reforça Miguel Guimarães.
Recorde-se que a revista Lancet acaba de publicar um estudo que concluiu que, apesar de a infeção dar alguma proteção contra reinfeção em jovens adultos, a verdade é que não os imuniza na totalidade, sendo necessária a vacina contra a COVID-19 para aumentar a resposta imunitária. O estudo resultou da observação de mais de 3000 elementos saudáveis dos fuzileiros dos Estados Unidos da América, a maioria com idades entre os 18 e os 20 anos, entre maio e novembro de 2020. Da análise feita durante esse período, cerca de 10% dos fuzileiros anteriormente infetados com o novo coronavírus foram reinfectados.
Também o Painel Serológico Longitudinal COVID-19 concluiu que só 13% dos portugueses teriam em março anticorpos após a infeção natural, com o coordenador do trabalho, citado
pela Lusa, a salientar que “a vacinação é a única via em tempo útil para se atingir a imunidade de grupo”.
Lisboa, 17 de abril de 2021
Atualização a 22 de abril: Depois de várias insistências da Ordem dos Médicos junto da DGS e apelos no sentido de se vacinarem os profissionais de saúde e as pessoas mais frágeis, que já tiveram COVID-19, além de uma posição conjunta em que Federação Nacional dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos e Ordem dos Médicos manifestaram profunda preocupação pela manutenção da norma que determinava as regras da campanha de vacinação contra a COVID-19, e que deixava desprotegido um grande número de médicos, outros profissionais de saúde e demais grupos de risco por vetar o acesso à vacina a quem já esteve infetado, a DGS reviu a sua posição. A norma agora atualizada ainda não abarca todas as situações que devia.